468x60

Isso não é feminismo!

quarta-feira, fevereiro 13, 2013
Resolvi falar sobre o assunto pois várias pessoas já me enviaram links com matérias sobre as ações do Femen e, ao mesmo tempo, criticaram o meu feminismo. Se você não conhece a diferença entre o movimento feminista e o Femen, você não sabe o que é nem um nem outro.


A mídia descobriu o Femen. Descobriu e resolveu fazer uso dele. O Femen, por sua vez, adorou os holofotes. Foi o casamento perfeito. De um lado, os jornais que querem ter sangue pra mostrar. Do outro, mulheres (sempre bonitas e magras) peladas que gostam de gritar. Já expliquei o meu ponto de vista sobre a nudez feminina, a grande questão são os posicionamentos de Sara Winter, mulher que trouxe o Femen para o Brasil. 

Antes de aderir ao Femen e trazer esse "movimento" da Ucrânia, Sara fez uma publicação em seu blog (que foi excluído posteriormente) criticando a nudez na Marcha das Vadias. Lá, ela diz que ser contra o "orgulho puta" que, segundo ela, é o que sustenta a Marcha. Quem diria que essa mesma Sara estaria na frente da Marisa, quebrando-a, de seios de fora. A diferença entre a nudez da Marcha das Vadias e das ações do Femen, ao meu ver, é a ditadura da beleza. Desculpa, mas só vejo mulheres lindas na Femen. Não vejo diversidade, não vejo várias representações. Vejo sempre as mesmas lindas mulheres de seio de fora gritando por gritar. Eu não vejo significado nas suas lutas. 

A Marcha da Vadias tem mulheres que são vistas como lindas por essa "ditadura da beleza", mas há todas as outras demonstrações de beleza também. É lá que a gente grita que a beleza está em todos os tipos de corpos, em todos os tipos de cabelo, em todos os tipos de seres. Outro ponto que a Femen se mostra excludente é o fato de não haver, em nenhuma parte do mundo, uma mulher transexual no movimento. Um movimento que se diz feminista deveria ter todos os tipos de mulher em sua composição. 

O feminismo sempre buscou a igualdade dos gêneros. Homem e mulher em uma balança equilibrada, onde um não corta o direito do outro, onde um não oprime o outro. Uma das propostas do Femen é: "Nós vamos criar o matriarcado e a revolução feminina". Criar o matriarcado? Colocar a mulher no lugar que o homem ocupa atualmente na nossa sociedade? Onde está a igualdade nisso? O feminismo não luta para pôr a mulher acima do homem, mas para que todos os gêneros tenham os mesmos deveres e direitos, que o nosso sexo não nos limite, não nos defina. 

Alexandra Shevchenko, militante do Femen, disse: "Nós queremos que daqui a 20 anos as pessoas se lembrem das feministas como lindas mulheres nuas e não como machonas carecas e tatuadas". Minha resposta a esse posicionamento é o seguinte: Eu quero que, daqui a 20 anos, as pessoas enxerguem umas as outras. O que eu luto é que os esteriótipos sejam excluídos do cotidiano. Qual o problema de ser uma "machona, careca e tatuada"? (sem levar em conta toda a conotação negativa que tem o termo "machona"). Ou qual é a superioridade em ser linda e estar pelada? Defendo a nudez feminina de uma maneira completamente diferente da que é colocada no Femen. Sara Winter diz que as feministas da Marcha das Vadias querem a nudez uma vez por ano, enquanto o Femen quer a nudez no cotidiano. Sim! Quero a nudez no cotidiano se for da vontade individual de cada mulher. Não uma imposição, não uma obrigação, não uma "arma". Meus seios não são uma arma, como Sara diz. Meus seios são meus, parte do meu corpo, não os pedi, nasci com eles. Não os usarei para ofender ninguém, nem para me defender. Quero é que eles percam essa conotação sexual que sempre colocam sobre as mulheres. Não os usarei como armas, não serei obrigatoriamente despida por um movimento que se diz feminista, mas não representa o feminismo. Daqui a 20 anos (ou 30, 50, 100 anos) eu quero que as pessoas não olhem mais para a aparência com o ar do preconceito. 

Houve uma especulação de que o Femen da Ucrânia havia repreendido Sara por ela deixar uma mulher gorda participar das manifestações. Em sua defesa, Sara disse que foi apenas uma brincadeira que a Ucraniana fez com ela, ao dizer que sua roupa apertada estava indicando que Sara estava acima do peso. Sério? Uma mulher que se diz feminista, que é líder de um movimento tão visto, criticando, mesmo que em tom de brincadeira, o peso de alguém? Ter o peso como fonte de piada já não é uma visão feminista, pois ao ponto que você coloca tal assunto como "aceitável para piada", você diz que ele é negativo. E, como já disse, no pensamento feminista nenhum corpo tem conotação negativa. Gorda não é xingamento e, se não é xingamento, não é matéria-prima para piadas. 

Eis uma das falas de Sara Winter em entrevista: "O problema do feminismo é que ele não atinge a grande massa da população. Por isso o Femen vem desenvolvendo o discurso do neo-feminismo já há quatro anos. No Brasil, por exemplo, por mais que haja décadas de lutas feministas, ninguém sabe o que é feminismo. O feminismo está nas universidades, nas casas de palestras. As feministas compartilham as ideias com mensagens herméticas, que não atingem pessoas simples." Ok. Gostaria de saber que imagem a Sara achou que iria passar ao quebrar a Marisa. Uma imagem de destruição, de vandalismo nesse nível não é bem visto por "pessoas simples". O Femen diz usar a mídia, mas é a mídia que o usa. Se somente usasse o Femen, tudo bem, tudo tranquilo, o problema é que tratam o Femen como "uma ação feminista". Não! Eu não quebrei a Marisa, embora fosse contra a propaganda machista que a mesma fez. Não! Eu não entrei na igreja pelada por que, embora seja a favor do casamento igualitário e contra a dominação da religião sobre as pessoas, eu respeito o direito de culto dos outros e, se não me encaixo naquele lugar, simplesmente não o frequento. Não! Eu não sou Femen! Minha luta vai muito além de mostrar os seios para ter uma arma a mais. A minha luta quer ensinar a mulher a se despir e impedir que essa sociedade machista arranque suas roupas. A minha luta quer ensinar a mulher que ela nunca é culpada de ser estuprada. A minha luta quer ensinar a mulher que, se ela apanha, ela tem que dar queixa. A minha luta quer ensinar as mulheres a pensar. 

Femen, você é machista. Não aquele machismo que vimos no blog Testosterona ou na página Orgulho de ser Hétero. Você tem pensamento machista, pois quer dividir. O Femen pode não acreditar que o homem tem superioridade, como o machismo faz, mas acredita que a mulher tem superioridade. Então, se o machismo é errado, o Femen também é. Eu não quero status por ser mulher, eu quero igualdade de direitos para meu gênero ser somente parte de mim. Sou mulher e não quero ser melhor ou pior do que ninguém por isso. Quero ser igual e fazer minhas escolhas e ter os meus direitos. 

Há quem não culpe a Sara Winter, mas sim todo o Femen Ucrânia. Bem, eu culpo o Femen como um todo, incluindo Sara Winter. Sara, a mulher que tem admiração por Hitler, a mulher que tem a cruz nazista tatuada no peito, a mulher que criticou a nudez feminina e agora usa seus seios como arma, a mulher que deu suas primeiras entrevistas sem nem ao menos saber do que se tratava o feminismo, a mulher que é líder brasileira de um movimento que diz que as mulheres tem que estar em forma, a mulher que recebe salário! Recebe salário para fazer parte de um movimento ideológico e social e um tanto quanto irônico. Transformar a militância em profissão é colocar em dúvida qual é o verdadeiro interesse de Sara. Então, eu critico o Femen por destruir a imagem do feminismo e critico a Sara Winter. 

Da próxima vez que você ler uma notícia falando sobre o feminismo, certifique-se de que não é somente mais um meio da mídia destruir a imagem do movimento. Certifique-se de que não é o Femen. Por que o Femen não representa o feminismo. 

O Femen é sexista. 

Lara Croft didn't need a reboot. Tomb Raider did.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013
Em time ganhando não se meche? Então, tem gente que não anda pensando assim. 

Desde que Tomb Raider foi criado em 1996, Lara é um ícone no mundo dos games. Entrou no Guiness Book como a heroína mais bem sucedida no mundo dos jogos. Teve a primeira grande recaída após o fracasso que foi TR 4: The Last Revelation (matar a personagem principal não é uma coisa legal. Isso é pra você também God of War 3!). Entretanto, após uma reformulação demorada dos jogos, Tomb Raider voltou ao ápice. 

A grande questão é que, com todos os fracassos e alguns jogos ruins, Lara Croft sempre foi a mesma. Inclusive no The Last Revelation, quando ela ainda é uma menina sendo guiada, a personalidade forte de Lara está presente, o instinto de sobrevivência e a imagem de uma mulher forte. Agora, 17 anos após o nascimento dessa heroína, querem desconstruí-la. Não somente querem, como o fizeram. Assim que o jogo "A Survive is born" for lançado, em março, irei comprar e jogar. Só que o que já vi sobre a nova Lara, me decepcionou. 

21 anos, perdida, fraca, inocente. Lara não é mais uma guerreira, mas uma adolescente perdida na floresta e que somente quer sobreviver. Lara que, antes, nunca precisou de ajuda, agora passará uma fase inteira procurando por alguém que possa salvá-la. A imagem de mulher forte, independente e guerreira se esvaiu. Antes, o que mais me perturbava era a ausência das características físicas e dos objetos clássicos; a trança, a mochila, as pistolas, os peitões. Agora, preocupa-me o motivo de terem retirado a minha Lara de mim (e de todos que crescemos jogando TR). 

A cada novo vídeo ou texto que leio sobre essa "nova" Lara Croft, sinto que simplesmente acabaram com Tomb Raider, roubaram sua história e colocaram uma garotinha qualquer para ser personagem jogável. Em que planeta uma garota daqueles iria sobreviver em uma ilha perdida? Lara sempre foi foda por ser a Lara; por ser uma mulher que poderia ser sexy, sem perder a garra. Uma mulher que poderia ser guerreira. Uma mulher que poderia ser mulher sem ser indefesa.

 É impossível não fazer uma comparação mental entre a Lara-criança de antigamente e essa Lara-adolescente de agora. A menina de duas tranças que se perde do guia e rouba a mochila de uma caveira era muito mais Lara do que essa garota de cabelos curtos que não sabe nem andar direito. Quiseram colocar realismo no jogo, mas o que fizeram foi retirar completamente toda a personalidade da Lara. Se antes ela já era uma personagem-objeto graças as suas roupas curtas, seios enormes e pernas torneadas, agora ela é um masturbador mental para os que querem ver a fragilidade feminina em jogo (literalmente). Usam a desculpa de que o jogo tornou-se realista, mas guardam o esteriótipo de que uma mulher como a Lara de sempre não poderia existir. Uma mulher com as feridas de Lara, seria uma guerreira. Só que, na visão desses mascus, mulher não pode ser racional o tempo inteiro. Sem a fragilidade, Lara não seria real. 

Tomb Raider precisava ser refeito. Precisava de gráficos melhores, enredos mais elaborados e um jogo maior. Tomb Raider precisava ser revisto, reanalisado e remontado. Lara Croft já estava pronta, não precisava de acréscimos nem débitos. Não precisavam mexer na personagem, mas sim na forma como o jogo é montado. Ao invés disso, preferiram mudar a forma como ela reage no jogo. Tiraram a minha guerreira e jogaram no lugar uma mulher que simplesmente não se encaixa no contexto. 

Lara não é frágil. Nunca será.