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Eu sou Santa Maria.

quarta-feira, janeiro 30, 2013
Embora eu sempre goste de fugir do óbvio, dessa vez serei o mais clichê possível. 
Sempre depois das tragédias, há chuva de palavras. 
Então, 
Essas são as minhas. 

Logo após o incêndio da boate Kiss, comecei a ler alguns textos sobre o desastre. São textos cheios de revolta e isso acalma um pouco o meu coração. Saber que a dor do outro ainda pode doer em nós é a forma mais significativa de saber que estamos vivos e que ainda vale a pena viver. A grande questão que me preocupou são as pessoas fazendo piadas. Entretanto, não somente isso; preocupa-me também aqueles que falam mal dos que fazem piada.

Certa vez li que a morte é uma piada pronta (não me crucifiquem, adoro os textos do Pedro Bial). Outra vez, li que piada é tragédia + tempo. Sempre concordei com a frase de Bial, mas não somente com a frase como com o texto todo. Lá ele explica que você programa não somente uma vida, algo tão grandioso, metas tão longas, mas também planeja o dia-a-dia mais cinza que possa existir. Nem que seu maior objetivo seja conseguir almoçar antes das oito da noite, é um objetivo. Então, você morre. Sem a melhor parte da festa e deixando todos os objetivos de lado, largados, abandonados, esquecidos, apagando-se.

Chega, então, a questão de que a piada é uma conta matemática. Uma soma entre tragédia e tempo. A tragédia seria a parte negra do humor, tão aplaudido e adorado. O tempo seria aquele espaço entre o xingamento e a risada. Hoje eu entendi que isso é realmente verdade.

Não gosto de piadas com tragédia, homofobia, machismo, racismo. Já escutei críticas de que, então, eu não gostava de rir. Muito pelo contrário. Eu amo rir, cair na gargalhada, perder o ar. Adoro sentar com os meus amigos e ficar ouvindo besteira, rindo um da cara do outro. Mas não consigo fazer o mesmo quando estou sentada na frente de um computador vendo piadas preconceituosas e completamente sem escrúpulos.

Hoje de manhã, enquanto me arrumava para ir pra faculdade e passeava pelo facebook, vi uma postagem de uma foto em que tinha diversos "tipos" de xadrez. O último era o xadrez do norte americano; sem as torres. A pessoa que compartilhou (ou postou, não lembro) aquela foto era a mesma que criticava os que ficavam fazendo comentários de que gaúcho adora churrasco. Quer dizer que pisar na dor das famílias dos jovens da boate Kiss não pode, mas pisar na dor das família do atentado do 11 de Setembro pode? Foi então que entendi que a piada é realmente a matemática tragédia+tempo.

Daqui a alguns dias, ou meses, se ainda lembrarem que ocorreu um incêndio grandioso e que centenas de jovens que estavam apenas começando a vida morreram, farão piadas sobre isso e ninguém virá com trinta pedras na mão. "Ah, agora pode, o luto passou". A grande questão, na minha opinião, é que o luto não passa. Não é uma doença que pode ser medicada e ela vai embora para nunca mais voltar. O luto, se comparado com uma doença, é a depressão. Uma vez na fossa, não há como sair. Há como dar uma observada na superfície, mas algo sempre vai te puxar para as profundezas. É escurinho, tão aconchegante... Então, alguém, que você mal conhece (ou não conhece), com tempo livre de sobra, uma vontade de fazer piada sobre tudo, começa a caçoar do motivo da sua dor. Não para te ofender, mas para não perder a piada.

Então, me preocupa não somente quem faz a piada e quem ri da mesma, mas quem a critica dois dias depois da tragédia. Sobre meu coleguinha que compartilhou a piada e não viu mal algum, será que ele aceitaria a mesma piada no final de 2001? Pra mim, a piada é horrível em qualquer época. Pisar em alguém para fazer os outros rirem, simplesmente não tem graça. Comediante que usa esse tipo de humor para se promover, não merece o seu aplauso ou a sua risada. Não merece seu ibope e o seu dinheiro. Merece nosso desprezo. Merece nossa pena. Afinal, que valor terá a vida para alguém que ri da morte de terceiros?

E, para terminar, não me venham com aquela frase de que "É só uma piada"; "Piada sempre ofende alguém". Se nós temos limites, se nós não podemos sair ofendendo todo mundo, então a piada também não pode. A piada não é carta branca para poder falar o que quiser. Chego a achar meio doentio quem gargalha verdadeiramente desse tipo de piada. Chego a ter medo de quem entende a gravidade da situação, entende do que a piada fala e mesmo assim ri. Pessoas assim me assustam.

Podemos ficar calmos.
Em breve o "luto nacional" passa .
(Dedico a todos que se sentem ofendidos por piadas)

Isso não é piada.

domingo, janeiro 13, 2013
Vamos relaxar que tudo não passa de uma grande piada...
Só esqueceram de me avisar quando era para rir. 

Escuto gente por aí falando que piada não tem limite. Que humorista tem carta branca para falar o que quiser. Há quem diga que piada não ofende. Só que, espera um minuto... Ela me ofendeu!

As piadas são a forma de enxergarmos mais claramente os esteriótipos que a nossa sociedade criou. Loira burra... quem não conhece algumas, né? De um lado é um comediante fazendo piada com grávida, ofendendo-a diretamente. Do outro lado, outro comediante falando para alguém come-lo para ele ficar "protegido". Bem, se essa piada é permitida, para mim, ela não tem graça. Qual a graça de ofender alguém, afinal? A graça de se sentir superior não pelo seu esforço, mas pelo fracasso alheio? A graça de fazer alguém descer alguns degraus só pra você ganhar impulso?

Dizem que eu exagero, que piada é só piada, que o politicamente correto agora virou moda. Só que se comediante não tem limite, vamos todos fazer piada e deixar o mundo afundar. Quando você faz uma piada para um grupo de amigos, ela pode ter um pouco mais de veneno. Você conhece a pessoa que está escutando, você sabe que ela não vai entender de maneira erra (ou supostamente sabe). A questão é que quando você fala para uma massa, uma piada torna-se uma verdade. Uma mentira, mas repetida tantas vezes, com tantas gargalhadas nas entrelinhas, que as pessoas passam a se perguntar "bem, se ele pode falar isso, por que eu não posso?"

Podem me chamar de careta e antiquada o quanto quiserem, piadas que representam uma falta de respeito sem tamanho formam preconceito e eu sou contra qualquer tipo de preconceito. Então, não esperem que eu seja público de comediantes que acham que podem fazer piadas da dor dos outros. Então, não esperem que eu esteja na primeira fileira aplaudindo um humor negro. Eu não irei aplaudir nem me calar. Eu vou criticar. Por que se pelo menos uma pessoa parar de rir dessas piadas, eu já fico feliz.

Se fosse você que pudesse morrer a qualquer instante somente por ser gay, se fosse você que fosse ofendida em rede nacional, se fosse você que se sentisse menosprezado por qualquer piadinha infeliz, você iria levantar bandeira contra esse comediante. Eu levanto bandeira contra esse tipo de humor, que ofende e acham que não tem limite. Humor tem limite!

Essa piada não teve graça. 

Só mais uma história sobre o amor.

terça-feira, janeiro 08, 2013
Eram dois corações que se encontram no meio do caminho de suas vidas. Era necessário que se encontrassem, mas também era igualmente necessário que se perdessem. 

Uma garota que nunca havia acreditado no amor. Ao seu redor, todos os romances pareciam falsos. Ao seu redor tudo era falso. Não só o amor, mas foi exatamente nisso que ela desacreditou. Era simples para ela não esperar que seu coração batesse mais forte por alguém. "Coração de pedra", como gostavam de nomear. Coitados, pobres garotos que se perderam no sorriso daquela jovem que, no fundo, não queria sorrir. Sorria por costume e para evitar que a questionassem. Odiava ter que responder perguntas sobre sua vida amorosa, ou melhor, sobre a ausência de vida amorosa. Não era e nem queria ser igual aos outros. Não queria morrer de amores, preferia viver sozinha a ter que entrar em um caixão com alguém. Os outros a viam como triste, mas só ela sabia o quanto era feliz. 

Um garoto que sempre acreditou no amor e não parava de procurar pela mulher de sua vida. Pros amigos ele era careta, tinha que aprender a parar de procurar, que era só olhar pro lado que ia encontrar o que tanto estava querendo. Ele olhou para todos os lados, andou por alguns metros e  nada de encontrar a mulher dos seus sonhos. Ele amava sonhar. Sonhava com muitas coisas além de formar uma família. Só que, embora sonhador, seus pés não queriam sair do chão. Almejava, mas não queria ir a luta. Achava que tudo que era sonho era impossível. 

Os corações se corresponderam assim que se conheceram. O diálogo era fácil e as ideias parecidas. Um foi mudando o outro, encaixando em sua realidade aquele sentimento tão estranho. Era amor? Talvez fosse além daquilo. Um era complemento do outro, como se estivessem passado a vida inteira vivendo somente para se encontrarem em algum momento. Os problemas desapareciam quando estavam juntos. Um com o outro era o certo. Só que chegou um momento em que os caminhos voltaram a se separar e cada um teve que escolher uma estrada. Não foi fácil... nunca é! Um transformou o outro de uma maneira tão intensa e verdadeira que eles nunca voltarão a ser o que eram antes, mas era preciso continuar sendo, mesmo separados. Isso foi há alguns anos, mas sei que um ainda pensa no outro antes de dormir. 

Já vi muitos casais que  se separando.
Não por falta de amor.
É triste, 
mas o amor nem sempre é suficiente.

Conselho, às vezes, é bom.

domingo, janeiro 06, 2013
Fui questionada acerca dos meus planos e desejos para esse ano que está começando. A doce menina com quem conversava queria a mesma coisa que eu: sentir! O que seria sentir, afinal? Esbarro na parede do meu quarto e eu sinto. Não é esse tipo de sensação que me falta. Não é o tato que me falta. Falei que queria sentir dentro de mim, aquelas borboletas no estômago que todo mundo tanto fala, aquela sensação de estar caindo de um prédio. Ando sem medo de cair e isso é perigoso. A queda não me assusta se eu puder me jogar, sentir o vento no rosto e quase quebrar a coluna na queda. Figuradamente, lógico.

Sentir seria voltar a interagir com as pessoas. Claro que tenho amigos e converso com eles, mas sempre fico na dúvidas se os conheço e se eles me conhecem. Será que alguém me conhece? Duvido muito. Nem eu mesma me conheço, vivo escondendo-me de mim mesma. Às vezes, quero fugir. Fugir de mim, como nos sonhos. Ando sonhando mais acordada do que durante a noite. Não ligue pros sonhos de quando estou dormindo, raramente consigo controlá-los. Gosto de ver meus pensamentos dançando livremente, sabendo que se eu não gostar do resultado é passar uma borracha e mudar o meu próprio destino.

Sentir seria puxar os sonhos para o chão, colocá-los no real, deixá-los sair do papel. É lutar pelo o que se quer, ir atrás do que acha certo e renovar-se todos os dias. Não ter medo da mudança; somos feitos de mudanças. Não deixar que o orgulho te impeça de seguir em frente. Errou? Dá um passo pra trás e recomeça, ninguém tem nada que criticar. É exatamente isso: deixar de levar as críticas tão a sério.

Sentir é deixar de me levar tão a sério. Afinal, pra que dá valor pra tanta coisa, vamos valorizar só o que é digno de tal ato. Vamos voltar a ser criança por alguns dias, vamos brincar de pique e soltar pipa? Não vamos ficar sérios por tanto tempo, o nosso sorriso é tão bonito quando é sincero. E tá faltando sinceridade nesse sentimento, então adiciona aí na lista a meta de parar de mentir tanto.

E no meio da dúvida sobre o que seria sentir e sobre o que eu quero para 2013, recebi um conselho que simplesmente tocou a minha alma: "Se joga, arruma um meio amor por aí e guarda o coração para quando der pra amar". Resolvi levar a risca. To deixando pra lá, me jogando naquilo que me dá vontade. Eu quero? Estou indo atrás, cansei de esperar vir ao meu encontro. Vou encontrar um meio amor aqui e outro ali... Duas metades é igual a um inteiro? Não sei, mas estou querendo descobrir. O coração? Está bem guardado aqui dentro e ele só vai dar o ar da graça quando valer a pena. Esse ano não é para sofrer, então vamos sorrir!


Eu não sei o seu nome, 
mas você me deu um conselho bom.
Obrigada. 

Mas sei seu tumblr, vale? (http://flor-de-papel.tumblr.com/)

Não me encaixar no seu molde não me torna menos verdadeira. Eu sou mulher de verdade!

sábado, janeiro 05, 2013
Só sei que eu prefiro mulher de verdade.

Aquela mulher que se dá valor, se dá ao respeito, não sai com qualquer marmanjo que chega nela, usa vestido que cobre suas coxas, não tem tatuagem, não gosta de chamar atenção por onde passa, mas é bonita. Sabe aquela mulher que todas querem, no fundo ser? É inveja pura quando falam mal dela, afinal, ela é perfeita. 

"Mas, cara, e aquela gostosa que você pegou ontem na balada?" Ah, conheci ela na academia e ela ficava me olhando, estava doidinha para dar pra mim. Não deu outra, não é? Encontrei ela na balada e nem precisei gastar minha lábia, já veio todinha pronta pra mim. E acredita que a vadia deu pra mim no primeiro dia? Muito piranha mesmo! 

A "gostosa" é só isso mesmo: um pedaço de carne e somos todos canibais. 

"Ah, teve aquela também que você conheceu naquela convenção de tatuagem." Então, cara, conheci numa convenção de tatuagem. Ela tinha um dragão tampando as costas toda, acredita? Gosta muito de chamar atenção, tem um gosto estranho, acredita que ela acha que mulher pode ser tão pintada quanto homem? Não, não dá para levar a sério uma mulher que tem mais tatuagem que eu e que fica falando que o corpo dela é uma tela de pintura. 

"Tinha também aquela que chegou em você naquele outro dia." Como vou dar moral para uma mulher que chegou em mim? Atirada, vadia, oferecida! Se eu a quisesse, teria chegado nela. Mulher tem que aprender a ficar mais calada, andam falando demais. Andam se oferecendo demais. Aquela ali é vadia para uma noite só. 

"E como era o nome da outra? Ana, eu acho..." A Ana? Sério que você quer lembrar da Ana? Ficava me mandando mensagem no celular, no facebook, me ligava, não parava de me dar condição, mas quando a gente saia ela tava sempre com um vestido curto, um short micro. Não, não dá para levar a sério uma mulher que, claramente, é uma vagabunda. 

"Fiquei sabendo que a Lurdes também estava afim de você" A Lurdes? Só que, cara, ela é feia! Fim de jogo. 

Quando cria-se a imagem de "mulher de verdade", cria-se juntamente a ideia de que existem mulheres que não são de verdade. A gostosa da academia, a tatuada, a feia, a de atitude, a que usa roupa curta. Uma só serve para transar, a outra só para a carência, outra é amiga, outra só por uma noite, a outra nem para isso. Deixa eu ver se entendi, então: A mulher de verdade seria uma mistura de todas as mulheres de mentira. Entendi, entendi! Não, mas espera aí. Laura é gostosa e, por isso, não é mulher de verdade. Você não frequenta academia também? Alias, a mesma que ela... Que vergonha, você não é homem de verdade! A Madalena tem um dragão tatuado e, por isso, não é mulher de verdade. Você tem um tribal nas costas e, que vergonha, por isso, sinto ter que te informar, mas você não é homem de verdade. A Felipa chegou em um homem e, por isso, não é mulher de verdade! Você chegou em trinta outras mulheres e nossa... Não é homem de verdade! A Ana usa roupa curta e, por isso, não é mulher de verdade! Você anda sem camisa, não pode ser considerado um homem de verdade! A Lurdes é feia, coitada, nunca será mulher de verdade! Você se acha bonito, se acha gostoso, se acha atraente, mas Paula só gosta de mulheres e, para ela, você é feio. Não é homem de verdade! 

Para homem não se aplica a dúvida da "veracidade" dele, não é? Só no caso de ele ser homossexual, aí ele vai ter realmente que aprender a ser homem de verdade, pois nasceu homem, mas escolheu ser mulher. Então não é nenhum dos dois, certo? E travesti, então? Tentam e tentam ser mulher, mas são homens... de mentira! 

Quando algo é de "verdade", todo o resto é de "mentira". Nesse jogo de julgar o que é real e o que é falso, ficou em mim a dúvida se sou ou não mulher de verdade. Sempre disse que queria gente de verdade na minha vida, mas afinal, será que a mentira é tão ruim assim? Ou melhor... existe gente de mentira? Por que as Lauras, Madalenas, Felipas, Anas e Lurdes são tão mentirosas assim? Por que elas são tão inferiores àquele molde lá do início do texto? A mulher submissa é a mulher de verdade? 

A questão é que eu sou de verdade, eu sou de carne e osso, eu tenho minhas ideologias, eu tenho minhas vontades, meus receios, meus medos, meus desejos. Eu tenho meus arrependimentos e meus sonhos. Eu sou tão repleta de incertezas que, talvez, quem sabe, se o tempo deixar, eu encontre algumas respostas pelo caminho. Em contrapartida, eu tenho planos de tatuagem, eu já cheguei em homem, eu ando de roupa curta. Enquanto ficam me considerando mulher de mentira, eu sei que sou de verdade. E todas somos! E não somente nós, nossas irmãs trans também são mulheres de verdade. 

Mulher de verdade é a mulher que sabe ser ela mesma. Mulher de verdade é ela, não outra. Mulher de verdade se molda, não é moldada. Mulher de verdade é quem ela quiser ser. Somos todas mulheres de verdade! 

Deixa que a minha roupa eu mesma tiro!

sexta-feira, janeiro 04, 2013
Uma das frases que mais me irrita é uma das que eu mais escuto: "Adora falar que mulher não é só peito e bunda, mas vai pras ruas mostrar o peito e a bunda". 

Fiquei pensando em qual seria a razão para a nudez feminina ser motivo de tanta revolta. Então percebi que o problema não é a mulher estar pelada. 


A grande questão não é uma mulher mostrar os seios. Não há problema nenhum em uma mulher, no Brasil, deixar os seios de fora. A problemática está no motivo pelo qual isso acontece. Tenho visto na internet várias reclamações sobre a forma de protesto da "Marcha das Vadias" e o foco das críticas é no fato das mulheres não se darem ao respeito e ficarem peladas no meio da rua. "Que falta de vergonha na cara!". A mulher está lá para gritar para todos esses hipócritas do nosso cotidiano que o corpo é dela, que ela sente calor também, que ela não é inferior, que ela não vai ficar calada, que ela vai lutar! É aí que está o problema.

A reclamação vêm criticando a ausência de vestimenta, mas, na verdade, quer dizer: "Você não pode ficar pelada quando deseja, na frente de quem quer! Afinal, o seu corpo não é seu... é NOSSO!" A sensação que tenho é que eu posso fazer tudo, desde que eu não grite aos sete cantos da terra que estou fazendo por mim e não pelos outros. Explicarei. Nossa sociedade quer ver peito de mulher. Globeleza no intervalo do desenho do seu filho? Pode! Mulher desfilando pelada no carnaval? Pode! Filme da Bruna Surfistinha ser quase um filme pornô? Pode! (não estou criticando nada disso, adoro carnaval e me amarro no filme da Bruna Surfistinha). Só que agora, amamentar em público? Que descarada, vadia, sem noção! Por que ficar mostrando esses peitos murchos? E ir para as ruas mostrar os peitos? Pra que?? Vai arrumar uma louça pra lavar que é o melhor que você faz! 

Crescemos com a noção de que o homem tem total posse sobre seu corpo, mas a mulher mal tem o direito de dizer "não". Quantas vezes ouvi comentários na praia, acerca de mulheres sem a parte de cima da roupa de banho, que diziam: "Ah, também odeio marca de biquíni" ? Eu sei essas mesmas pessoas criticam se passarem pela rua duas quadras depois da praia e encontrarem com uma mulher só de biquíni. Por que a nudez na praia pode? 

Então eis a conclusão: Todos querem ver mulher pelada. 

Mulher pelada faz sucesso, dá audiência, excita. Mulher pelada é propaganda, vende mercadoria, traz turistas. Mulher pelada é uma maravilha. Mulher pelada, entretanto, tem que se despir para um público que quer ver pele, não roupa. Mulher pelada tem que estar despida por que a despiram. Mulher tirar a própria roupa? Nunca! É essa a questão. Mulher não pode estar pelada para si. Afinal, mulher não tem que querer nada, tem apenas que satisfazer essa sociedade machista na qual vivemos, certo? Errado. Mulher tem que estar da forma que quiser. Burca, shortinho ou com os seios de fora. Mulher tem que aprender a se despir e impedir que os outros arranquem suas roupas.