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Andar tranquilamente na favela onde eu nasci...

quarta-feira, outubro 31, 2012
Um dia me ofereceram cocaína. Não aceitei. Há quem diga que todo "favelado" já experimentou todas as drogas lícitas e ilícitas, mas eu não quero fazer parte dessa generalização. Generalizações são sempre erradas, já percebeu? E lá estou eu: Generalizando. A questão é que eu sou favelado, nasci no morro, sou preto, ando descalço, estudo em escola pública, sou um clichê de novela da globo, aquele que morre no meio do tiroteio e dois capítulos depois ninguém lembra nem do meu nome. Só que eu nunca me droguei. Um dia tentaram me entregar um revólver. Recusei. Sim, eu poderia muito bem ter pego e ter sido o orgulho dos traficantes, por que eu sou neguinho e eu moro ali, bem na esquina da maldade e do caminho errado. Só que eu desviei. Não é isso que minha mãe gostaria que eu fizesse? Desviasse? Então, eu desviei. Eu matei aula, como todo garoto, rico ou pobre, negro ou branco, mas eu estudava. Mais do que muitos. Não era o mais inteligente, mas buscava ser, eu precisava ser se não quisesse ter valor somente por segurar uma arma ou chutar uma bola. É isso que acontece no morro; ou você nasce para polícia te matar ou para estrangeiro te comprar. Só que eu não nasci para morrer e nem queria sair do Brasil. Eu queria ser alguém? Sim. Só que aprendi que você é sempre alguém. Eu sou alguém. Sou alguém para mim, pros meus pais, pros meus irmãos. Posso ser um número na estatística do governo, mas sou alguém dentro de casa. Quer orgulho melhor? E eu sou novo, não sou? Dezessete anos e já quero o mundo todo pra mim. Mas tenho preguiça, quem não tem? Tem dia que não quero estudar, só quero sair com os meus amigos, pegar algumas meninas, ouvir um funk. E daí se o meu funk fala um caralho? E dai se o meu funk diz que um pau na boceta é gostoso? Sabe por que ele te incomoda, plateia de Caetano Veloso? Por que ele fala o que você pensa, mas nunca teria coragem de dizer. Sabe qual a nossa diferença maior, almofadinha que lê a Veja? Eu, lendo meu meia hora, sou capaz de escutar Caetano Veloso e assumir. E você? É capaz de dizer para mamãe que andou escutando um proibidão? O que você faz e tem medo de assumir, eu canto pelos quatro ventos. E saio como errado, mas é claro, eu sempre sou o errado. Afinal, você pode ir para o meio da rua e gritar sobre Deus, pode colocar a música góspel na frente de uma casa de macumba no último volume. "É o meu direito de expressão, você não pode me proibir disso". Mas... você está incomodando quem não divide do mesmo gosto que você, não está? Só que você esquece que respeito e direito é uma via de mão dupla. Então, vamos fazer assim? Você escuta tua música num fone de ouvido e eu passo a não escutar funk no ônibus, fechado? Só que ai você pensa que eu estou te podando... "negrinho querendo aparecer, volta para senzala!". É por isso que eu não ligo se você reclama que meu funk é proibido. Afinal, teu preconceito também é e você continua mostrando-o para quem quiser (e para quem não quiser também). E eu jogo bola, mas não quero ser jogador. Eu escuto funk e não quero ser cantor. E eu escuto rap e não sei rimar. Mas eu sou humano e, você querendo ou não, sou igual a você. E eu podia ter entrado no mundo das drogas e no mundo do crime. Eu poderia ter me iludido achando que o Flamengo ia vir me procurar no morro e eu iria ser o próximo Adriano. Eu poderia, não poderia? Mas eu escolhi ser eu, morar na minha favela e ser alguém dentro de casa. Eu escolhi, na volta da escola, escutar o meu funk no ônibus. Eu não tive overdose, nem fui preso, nem reprovei na escola, nem fui expulso de casa, nem peguei uma doença. Eu fui morto por que estava escutando o que eu gosto. Talvez alto demais? Sim, mas... você não? 
Abaixa o som da hipocrisia, por que você me deu um tiro por ouvir a música que te faz quicar até o chão. 


Será mesmo que eu sou a única pessoa que achou um absurdo os comentários feitos sobre a notícia no jornal sobre um garoto que foi morto por estar escutando funk no ônibus? "Bem feito" "Já foi tarde", "Finalmente alguém fez alguma coisa"... Eu não gosto de música alguma no ônibus, só que tirar a vida de alguém por causa disso é uma ignorância sem tamanho. A história não é baseada em fatos, eu não sei nada sobre o garoto que morreu, mas... você sabe? Você que acha que ele tinha que morrer mesmo, que todos deveriam morrer... você sabe quem era esse garoto? Ele podia ser um drogado, um sem rumo, um bandido, mas mesmo que fosse, isso não lhe dá o direito de querer que ele morra. O garoto podia ser bandido, mas também podia ser um herói. O teu rock não é melhor que funk algum. Nem o teu axé, rap, reggae, pop, mpb. Nem o funk é melhor que qualquer outro estilo. Mas a tua ignorância faz VOCÊ pior. Cada dia pior... 

Fácil como respirar.

sexta-feira, outubro 26, 2012
No começo do ano, quando descobri que havia sido aprovada para a UFF eu fiz uma lista de coisas que eu tinha que fazer antes de começar a faculdade. Tinha 6 meses pela frente e um dos meus objetivos era, finalmente, terminar o meu livro. Dez meses se passaram e nenhuma página foi acrescentada. Esses dias, entretanto, me deu vontade de voltar a escrever aquela história que já está quase que completamente esquecida na minha memória. Mas... e agora? Onde está o arquivo? Fiquei procurando pelos pen drives antigos, hd externo e pastas dentro de pastas até que eu encontrei. Encontrei algumas histórias abandonadas e um conto escrito no bloco de notas. Um dos meus primeiros contos, escrito quando eu tinha 11 ou 12 anos. Resolvi postar ele aqui. Não mudei nada, só corrigi o português em algumas partes que estavam absurdamente erradas. Espero que gostem. (E não, nem nem abri o arquivo da história do livro. Deixa para os próximos 10 meses, né?)


 — Está pronta, Sabrinna? — Alissa, minha irmã mais velha, olhava-me com seus olhos negros.
— Não. — Confessei.
— Então, é melhor você ficar pronta rapidamente. Chegou o grande dia, pequenina. — Ela sorriu.
Suspirei.
Sempre soube que havia algo de estranho na minha família. Era comum ouvir expeculações e brincadeiras na rua. Principalmente quando o tão famoso dia das bruxas estava se aproximando. Cidade pequena é assim... As pessoas tendem a acreditar em lendas que são passadas de geração em geração. Minha cidade é assim. Os fatos não importam. Não importa, também, se quem contou a história morreu há mais de duzentos anos.
Cresci com Alissa fazendo brincadeiras comigo sobre o meu destino no dia das bruxas. Implicância de irmã, cheguei a acreditar. Dizendo-me, por vezes, que tudo iria mudar quando eu fizesse 21 anos. Pensei que fosse a liberdade. Iludi-me achando que me libertaria de alguma coisa.
Tola que sou.
Hoje, além de ser dia das bruxas, é meu aniversário de 21 anos. Ao contrário das outras pessoas, porém, não vou ganhar a tão sonhada liberdade como presente. Em contra partida, ganharei minha maldição eterna. Algo que eu não posso combater. Algo que ninguém, nunca, conseguiu enganar. "O seu destino pode ser seu carma ou seu darma, pequenina. Cabe a você escolher." — Dizia-me Alissa, todas as vezes que eu indagava sobre o segredo de família.
Então chegara o dia.
Antes do café-da-manhã, tive algo para digerir.
— Sabrinna, está pronta? — Alissa me olhou, ansiosa.
— Não, Alissa. Sinto medo dentro de mim. — Fiz uma pausa, olhando para as minhas mãos cruzadas sobre o meu colo. — Mas você pode falar. Quanto maior o tempo que você me esconde a verdade, maior o peso que você carrega nas costas. Está na hora de dividir o peso. — Tentei sorrir.



Alissa respirou fundo.
Então começou a falar.
— Há muitos e muitos anos, nessa mesma cidade, duas famílias brigavam pelo poder. Uma família de magos. Uma família de bruxas. Em uma, somente os homens tinham o poder. Em outra, somente as mulheres. — Alissa levantou um dos cantos da boca. — Romeu e Julieta. Coisas assim acontecem, Sabrinna. O nome dele era Matthew e o dela Maddalena. Ambos eram a grande promessa de suas famílias. Eles eram a esperança de poder. Antes de terem poderes, porém, eles eram humanos. Um pré requisito para poder ser chamado de humano é o fato de que cometemos erros. E eles cometeram. Cometeram o erro de dormirem na mesma cama e compartilharem o mesmo amor. Cometeram o erro de fazer a coisa mais linda do mundo; amar um ao outro com a força de sua alma. Cometeram o erro de unir o sangue das famílias. — Alissa fez uma pausa. — Quando Vênus nasceu, não era de conhecimento comum se ela seguiria o ódio ou o amor. Mas tome como lição, pequenina; Não importa quão grande seja o ódio. Se houver uma pequena faísca de amor, afeto ou carinho, o ódio é nulo. Ou quase. As famílias se uniram e amaldiçoaram os três frutos do amor proibido. Mas o amor deles era tão forte que nada os abalou. Mas a maldição foi lançada. E o amor só foi forte o suficiente para proteger quatorze gerações. — Ela me olhou nos olhos. — Então cabe a você, pequenina. Cabe a você, décima quinta geração. Cabe a você acabar com a maldição.
Eu não consegui, de primeira, entender tudo o que Alissa estava tentando me dizer. Mas uma pergunta me veio logo em mente.
— Como eu o faço? — Perguntei, com medo da resposta.
— Matando alguém de coração tão puro quanto o de Vênus. Na noite do dia das bruxas do seu 21º aniversário.

— E se eu não o fizer? 
— Então você estará traçando o caminho da morte e da dor não somente para nossas famílias, mas como para todos que um dia pisaram ou pisarão em nossa cidade. 
Eu não tinha mais nada o que pensar. Não poderia deixar aquilo acontecer. Acabara de descobrir meu passado e já sabia o que tinha que fazer no futuro. Eu não teria futuro. Eu sentia o que precisava fazer, como se já estivesse cravado em meu peito desdo dia em que nasci. 
Pensar naquilo era fácil como respirar. 
Fui até a praça da cidade, que estava vazia, com uma faca antiga na mão. Na outra mão, uma pequena carta. "Fácil como respirar" lembrei-me. 
E realmente fora. 
A faca atravessou meu coração tão levemente que não cheguei a perceber a dor. Parecia que meu corpo e minha alma estavam prontos para aquilo, necessitavam daquilo. 

No dia seguinte encontraram meu corpo sem vida e sem brilho. 
Hoje em dia o conteúdo da minha carta está exposto em todos os cantos daquela pequena cidade. Em forma de agradecimento, espero eu. 
É impossível limpar um nome quando é o seu destino que está manchado de sangue


Inspiração: Cabelos Coloridos

segunda-feira, outubro 22, 2012

Eis uma das minhas maiores paixões: Cabelos coloridos. Acho que todos já tiveram, pelo menos um dia, aquela vontade louca de pintar o cabelo de rosa, azul, verdade, roxo, laranja... Por que não pintar agora? É, isso mesmo, vá descolorir esse cabelo e jogar uma tinta fantasia por cima.
O grande problema de ter cabelos coloridos é a manutenção. O pigmento não maltrata o cabelo, já a descoloração sim. Então, se for fazer em casa ou no salão deve-se saber se o descolorante é um bom, que maltrate menos o cabelo. Não podemos esquecer também das hidratações e que, para ter cabelo colorido, deve-se abrir mão de algumas coisas como, por exemplo, banho de mar ou piscina. Iemanjá adora levar a cor de nossos cabelos (mas aí ajuda se você estiver querendo trocar a cor. Desbota no mar e pinta depois).
Então, aqui estão algumas (poucas) inspirações para vocês. Estou apaixonada por esse cabelo em tons pastéis, quem sabe eu faço no futuro, não é?


E não posso deixar de mostrar o meu antigo cabelo colorido... Bateu saudades dele.
(Loiro, laranja, rosa, vermelho, azul e roxo)