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O amor não tem as mãos sujas de sangue.

segunda-feira, abril 15, 2013
Mulher é morta por "crime passional".

Ela manteve um relacionamento com um homem que pensava que a possuía. Esse homem escondia sua possessão entregando flores. Início de relacionamento é sempre só amores, não é? O problema nunca é o início do relacionamento. Essa mulher amou um homem que a tratava como um mero objeto. Um objeto coberto, pois criticava cada peça de roupa que a mulher escolhia, fazia-a trocar a vestimenta até estar devidamente "adequada". Tudo começou a ser percebido por pequenas ações (com grandes significados, mas o mundo parecia querer viver de olhos fechados). Ele sempre deu ênfase no "minha" e esqueceu da parte do "mulher". Na verdade, ele deu sua própria interpretação para a palavra "mulher". Na visão dele, do mundo pequeno, machista e sexista que estava infiltrado, mulher era o sub ser humano que tinha como função servi-lo. Servi-lo de sexo, servi-lo de comida, servi-lo do que ele desejasse. Para ele, sua esposa, não era mais do que uma coadjuvante do casamento. E o casamento nada mais era do que uma forma de manter a relação que tinha na casa dos pais: uma mulher servindo os "machos da casa". Depois de um tempo, nos raros momentos em que frequentava as ruas de sua cidade, a mulher aparece com um hematoma. Escorregou, caiu da escada, tropeçou numa pedra, bateu a cara na parede. Várias justificativas que, obviamente, não eram verdadeiras. Os sinais que, antes, eram sutis, agora estão gritantes. Aquela mulher, oprimida, possuída, maltratada, humilhada, agredida, gritava por ajuda - e o mundo, dessa vez, colocava fones de ouvido para não escutar os gritos.

Em casos, o homem nem ao menos tem uma relação com a mulher, mas a imagina e acredita fielmente que essa mulher tem, sim, uma dívida e uma obrigação com ele.

E a mulher que deveria ser livre, está presa dentro de uma casa quase em cárcere privado (quase?). A mulher, que deveria ser dona de suas ações, já não é mais dona nem de sua vida. Suas escolhas não existem. Ela não tem o direito de querer. O marido chega bêbado e a estupra constantemente. O marido se enxerga no direito de abusar de todas as formas da esposa. Afinal, ele é quem manda, não é? Não é assim que tem que ser?

Então, o que seria esse sentimento que ele sente por sua esposa?
É o sentimento de possessão, o sentimento de que essa mulher pertence a ele e ele, por ser seu marido, tem todo o direito de fazer o que bem entender com essa mulher... Inclusive matá-la.

Esse sentimento não é amor,
então não é crime passional.

Não existe crime cometido por amor, mas sim crime cometido por um sentimento de que o outro tem uma obrigação para com você. Não existe crime cometido por amor, mas sim um crime cometido por alguém que nem ao menos sabe o que é amar. O crime passional é uma farsa.

(É considerado passional, o crime que envolve paixão. Paixão é um sentimento levado ao extremo. Na maioria das vezes que "crime passional" aparece na mídia é para identificar uma violência doméstica. Amor ao extremo nunca será motivo para crime. Então, isso não é amor)

(A história acima pode sim ter seu papel invertido. Homens também são vítimas dos chamados "crimes passionais". Porém, é incontestável que as mulheres são as maiores vítimas)

Levou meu coração e nunca mais voltou.

domingo, março 31, 2013
Isso não é um texto sobre o que foi amor.
Certa vez li que isso seria "arrumar o quarto do filho que já morreu".


É olhar para o lado e não encontrar.
É olhar pra trás e ver que está distante.

É a ausência de um abraço,
um apelo por um aconchego.

É aprender a conjugar os verbos no passado.
Como se fala mesmo quando algo ainda vai acontecer?
Esqueci.

É ter que fechar os olhos para enxergar.
Olhos abertos já não captam nada.

É aquela blusa velha, suja, rasgada que você não abre mão.
Um cordão que não sai do pescoço.

Uma frase melancólica escrita e reescrita em todas as agendas.
Sem destinatário.

É escutar Tim Maia,
Zeca Pagodinho.

É o colarinho da cerveja.
Agora só bebo sem essa espuma branca.

É questionar a fé, a igreja, o médico, o amor.
Cadê? Quem me roubou?

E, pra mim, é aquela velha disputa vasco e flamengo.
Isso não é sobre o que foi amor.
É sobre o que sempre será amor.
É sobre a saudade.

Eu sou um direito humano.

quinta-feira, março 21, 2013
Eu sou muitas coisas e deixo de ser várias todos os dias. 

Eu sou branca, negra, índia, oriental. 
Eu sou hétero, bissexual, homossexual.
Eu sou católica, umbandista, budista, ateia. 
Eu sou feminista, humanista, humana. 

Eu sou da tolerância, do respeito, da diversidade.
E não me envergonho de ter várias faces, vários jeitos, vários rostos, vários tipos. 
Sou uma diferente a cada dia.
Em cada dia eu adoto um ser diferente.

Eu me orgulho de conseguir ser diferente.
Eu me orgulho de respeitar quem é ainda mais diferente.
Eu sou muitas coisas, sou muitos dias, sou muitas vidas. 
Eu sou muitas vontades, muitos desejos, muitos sonhos.
Eu sou alguns tropeços, muitos erros, muitos pedidos de desculpas.
Eu sou uma incerteza sem fim, talvez termine, talvez perdure. 
Eu sou mortal, eu sou humana.

Dizem que eu sou mulher, mas vai que, em algum universo paralelo, eu seja um homem.
Vai que eu seja transsexual. Vai que eu seja um animal. 
Irracional. 

Eu poderia ser tantas coisas que nem sei direito o que eu sou.
Eu poderia ser respeitada, mas parece que estamos nos afastando disso.
Eu poderia ser livre, mas parece que andam querendo cortar minhas asas. 
Eu poderia ser só amor, mas ando recebendo pancadas de ódio.

Só que, de tudo o que sou, algumas coisas eu nunca seria.
Eu nunca serei um "câncer gay".
Eu nunca serei uma "amaldiçoada". 
Eu nunca serei uma "aberração". 
Eu não fiz a "escolha" da minha sexualidade.
Eu não tive o "azar" da minha cor. 
Eu não estou "atrapalhando a constituição da família".
Eu não sou machista, homofóbica e racista. 

Eu não sou essa piada do "Direitos Humanos"
Eu não sou Marco Feliciano
E Marco Feliciano não me representa
(e nunca representará nenhuma das milhares de coisas que posso ser)

Eu não me respeito.

terça-feira, março 12, 2013
Uma das primeiras coisas que aprendi, ainda quando era criança, era que eu precisava respeitar os outros. Minha mãe me ensinou que eu precisava respeitar a todos, pois era um dever meu como cidadã que mora em comunidade. Eu não moro isolada, moro no meio de um grupo com pessoas completamente distintas de mim, então deveria respeitar essas diferenças e a singularidade de cada ser.

Pois bem, respeito é a base uma relação. Qualquer relação, não somente os relacionamentos amorosos e as amizades, como as relações que criamos com pessoas que mal trocamos meia dúzia de palavras. Eu respeito o seu modo de vida e você respeita o meu.

Eu sempre fiquei incomodada quando alguém chegava para mim e falava que mulher tinha que se dar ao respeito, que só assim poderia ser respeitada pelos outros. Eu nunca soube que o respeito era circunstancial.  O que sempre foi do meu conhecimento era que eu tinha que respeitar os outros e que todos tinham que me respeitar. Era a regra, a norma, a forma de viver bem. Nunca tive a pretensão de que todos concordassem comigo e também sempre soube que eu iria discordar da maioria. Só que ali existiria o respeito para que todas as opiniões fossem devidamente expostas e todos os pontos de vista muito bem analisados.

Então, tentaram fazer com que eu acreditasse que só iria ser respeitada se eu mesma me desse respeito. Logo eu que sempre gritei que não me dava ao respeito. Eu! Só que continuar afirmando isso era ser menosprezada, criticada, julgada por todos na rua. "Olha a roupa dela, não se dá ao respeito!"; "Olha como ela fala palavrão, não se dá ao respeito!"; "Olha esse cabelo colorido, não se dá ao respeito!"; "Olha como troca de namorado, não se dá ao respeito!"; "Olha, fica nessa putaria de um dia namora um homem, no outro dia namora uma mulher. Não se dá ao respeito!". E foi me desrespeitando que eu aprendi que não deveria me respeitar.

Não quero me respeitar se, para isso, eu tenha que abdicar da minha essência. Não quero me dar ao respeito se isso significa mudar as roupas que eu gosto, controlar os meus afetos, podar meus pensamentos, reeducar minha linguagem. Eu não quero modificar o que sou para que os outros passem a me respeitar. Eu não quero respeito, eu EXIJO respeito. Se eu respeito os outros, exijo ser respeitada. Eu não quero ser respeitada com uma roupa que todos usam e com uma conduta "aceitável". Eu quero ser respeitada pelo o que eu sou, mesmo que isso vá de encontro com o que a sociedade vê como "normal". Eu exijo ser respeitada não para que eu entre nos moldes, mas para que as pessoas consigam enxergar a pluralidade da vida humana.

Então, mesmo que eu saiba todas as interpretações que isso pode causar, eu sempre irei repetir que eu não me dou ao respeito. Por que o respeito é que deve ser dado a mim, pois sou humana, pois sou única, pois sou diferente e, mesmo assim, semelhante. E eu respeito o meu próximo.


Ao infinito e eterno além

sábado, março 09, 2013
Por um dia das mulheres que nunca termine.
Se ontem nós recebemos flores, o que recebemos hoje?

O dia da mulher, teoricamente, já passou. Só que eu não aceito para mim somente um dia. Não aceito um dia feito para mim, embora entenda sua complexidade e seu significado. Aceito, até, uma data para comemorarmos, mas não uma data para que me respeitem. Eu quero um dia das mulheres sem fim, que comece hoje e termine nunca!

Cartaz em homenagem ao dia das mulheres nas paredes da UFF

Há quem leve a namorada em um restaurante caro para comemorar o dia das mulheres. Outros compram flores para as amigas, colegas de trabalho e professoras. Alguns ainda perdem o tempo fazendo piadas sem graça e machistas em redes sociais e mesas de bar. 

Eu, mulher, não quero um restaurante caro, uma rosa, uma piada. Eu, mulher, não quero um dia para mim. Esse dia é para as outras. É para as mulheres que morreram lutando por suas vontades, que foram mortas naquela fábrica. O dia das mulheres não é para a mídia falar que "fazemos as unhas e a diferença". Não é para ficar ouvindo que "os outros dias são dos homens". 

Eu, mulher, quero respeito no dia das mulheres, mas também quero respeito em todos os outros dias. Eu, mulher, não quero ser lembrada e enxergada somente no "meu" dia. Não quero que doem esse dia a mim. Afinal, o dia é posse de quem para poderem me doar dessa maneira? Sou dona dos meus próprios dias e sou sujeito deles. Sou protagonista, não figurante que ganhou um dia comemorativo. 

Não quero ser lembrada por fazer as unhas e a diferença. Não quero ser lembrada como "costela do homem". Não quero ser lembrada como "a esposa de fulano". Eu sou além disso, mais que isso. Não sou "algo de alguém", sou toda minha. Faço parte das vidas dos outros, mas tomo conta da minha. 

Então, que o dia das mulheres não seja de presentes e agrados. O que desejo é que no dia das mulheres não haja uma única mulher que apanhe, que não haja mulheres morrendo, mulheres sendo estupradas. Que não haja mulheres sendo podadas de trabalhar com algumas profissões. Que não haja mulheres morrendo em abortos clandestinos. Que não haja mulheres trans sendo chamadas de "ele". Que não haja preconceito e diferenciação entre mulheres cis e trans. Que não haja violência contra a mulher. Que não haja esteriótipos de gênero. Que não haja "sexo frágil". Eu quero que, no dia das mulheres, todas as mulheres sejam livres. Livres para trabalhar com o que quiserem, livres para usar a roupa que quiserem. Livres para entenderem que a vítima de estupro é sempre VÍTIMA! Livres para serem felizes, se divertirem. Livres para casar, livres para terem filhos. Livres para serem solteiras, livres para não terem filhos. Livres para adotar. Livres para amar. Livres para serem heterossexual, homossexual, bissexual, assexual. Livres. Livres. Livres.

Eu quero que esse dia das mulheres comece hoje e não termine nunca mais! 

Temporada das tintas.

segunda-feira, março 04, 2013
Existe uma grande preparação por trás do vestibular. É uma dedicação completa. Não são só mais horas de estudo, como um preparo físico para enfrentar as muitas horas de prova. Tem que aprender a controlar o tempo e o nervosismo. A maior parte dos participantes do vestibular são adolescentes. Jovens com intermináveis sonhos na cabeça, com planos pra vida que está apenas começando. Não dizem que a felicidade começa na faculdade? É na faculdade que você começa a estudar o que gosta e começa a ganhar sua independência.

Então, você passa no vestibular. O curso que você tanto sonhou e em uma das maiores faculdades do país. Você vai estudar em uma universidade federal e começa a imaginar que todos os seus sonhos estão encaminhados para virarem realidade. Só que não são sonhos normais. Não são sonhos utópicos. Você mereceu que o seu nome estivesse naquela lista. Você lutou por um sonho e o conquistou. Nada foi entregue a você sem um custo.

Só que tem gente que acha que pode abusar de você pois chegou naquela universidade antes. Então, você que estudou e se esforçou para entrar na faculdade, tem que encarar um trote humilhante. Todos os anos vemos brevemente pelos noticiários a notícia de que alguma coisa deu errado em um trote. Calouros que se feriram, calouros que foram humilhados, calouros que morreram. Você, que batalhou para conseguir a matrícula na faculdade, tem que "pagar um preço" para ser aceito.

"Você não é obrigado a participar do trote". Ok. Não é obrigado, mas é uma cultura tão forte essa de que todos os calouros devem ser submissos aos seus veteranos, que a pessoa que se nega a participar dessa "tradição" é vista como antissocial e excluída pelos seus colegas de faculdade. Quem está cursando uma faculdade sabe como é complicado seguir em frente com os estudos sem amizades. Não consigo me imaginar indo todos os dias para Niterói se não tivesse amigos.

Então, mesmo que ninguém pegue o calouro pelo braço (embora eu ache que isso aconteça às vezes) e o obrigue a participar do trote, não quer dizer que o trote seja facultativo.

E como agora começou a temporada das tintas, o tempo do medo começa igualmente. Posso garantir que as garotas que foram aprovadas na USP de São Carlos não sabiam o que as esperavam quando acordaram para o primeiro dia de aula na faculdade. Elas não acordaram naquele dia e resolveram que iriam ser "bixetes" e iriam sorrir para todas as humilhações que estavam prontas para sofrer. Ninguém está pronto para isso. E quando um grupo de mulheres vai protestar em prol dessas meninas, são agredidas por um grupo de jovens que se acham melhor do que os outros por que entraram na faculdade antes, por que são veteranos.

Eu não acho que a solução seja proibir o trote. Os crimes cometidos nesses trotes já são proibidos e isso não impediu que fossem cometidos. Matar, torturar, ferir. É tudo crime, tudo proibido e mesmo assim continua a acontecer durante os trotes. O que deve ser feito é uma punição mais severa para esses todo-poderosos-veteranos. Os garotos que ficaram pelados e agrediram as protestantes feministas, os veteranos que causaram a morte do calouro de medicina há alguns anos e todos os que apoiam e fazem parte desse tipo de "iniciação" na faculdade devem ser punidos. Devem responder por tais atos perante a lei e essa lei deve ser cumprida. Só quando o trote humilhante, perigoso e violento for devidamente punido é que vai haver conscientização.

A questão é que existe essa cultura que diz que quem está há mais tempo na faculdade tem todo o direito de maltratar os novatos. Há essa cultura de que eles podem fazer o que fazem, então eles não se vêem como errados. Eles não se enxergam como os criminosos que são. O que precisa mudar é essa ideia de que o trote não é obrigatório e as pessoas só são humilhadas, machucadas e mortas por que permitiram serem tratadas dessa maneira. Há uma pressão para que você participe do trote e um medo de dizer que não quer fazer tal coisa.

Não temos que culpar as meninas que desfilam como "bixetes" e tiram as roupas e depois ficam reclamando que foram humilhadas. Elas foram humilhadas, não há o que discutir. Nomeá-las "bixetes" já é humilhá-las, rebaixá-las. O que deve ser feito é transformar essa cultura dos trotes. Não tenho nada contra a parte do trote de se pintar e ir pegar dinheiro para a festa. Sou contra a parte da cota que faz com que os calouros tenham muitas vezes que pegar dinheiro do próprio bolso para bancar uma chopada.

Eu tive a sorte de ter um trote consciente. Meus veteranos só pintaram quem queria ser pintado, nós só respondemos as perguntas que queríamos responder. Não há pressão alguma com quem não quis participar da brincadeira feita no primeiro dia de aula.

Eu sou contra o trote que aconteceu na USP de São Carlos esse ano.
Eu sou contra o trote que humilha, maltrata, machuca e mata.


Eu sou Eliza Samudio.

Finalmente começou o julgamento do Bruno. Bem, pra começar a falar sobre o assunto, não irei me referir a ele como "goleiro Bruno" ou "Bruno do Flamengo". Não foi o time de futebol que cometeu o crime ou a profissão dele que o incentivou a realizar tal ato. Foi ele. Bruno Fernandes de Souza. Não essa imagem que a mídia criou, não esse excelente atleta que os fãs fazem questão de lembrar. Quando alguém rouba, ninguém está ligando se esse ladrão é um ótimo artesão. Quando alguém mata, ninguém está ligando se essa pessoa tem uma voz de anjo. Então, por que nesse caso as pessoas estão adorando separar o Bruno-assassino do Bruno-goleiro? É a mesma pessoa e eu não consigo separar essas duas linhas.

Esse crime é um pouco diferente dos outros pois se trata de um grande nome do futebol brasileiro. E mesmo que não queiram aceitar, o futebol é a alienação do Brasil. Oscar Pistorius matou a esposa e todos os comentários que vi foram de indignação. Ela era linda e não merecia ter uma vida destruída dessa maneira. Ele até era um bom atleta, mas como pode realizar tal ato? Com o Bruno é diferente. Eliza Samúdio era uma prostituta, atriz pornô, não sei ao certo, só sei que era uma "mulher da vida". E Bruno? Ah, o Bruno é um grande goleiro, tem que ser solto logo para poder voltar aos campos e defender todos os gols. 

Entendeu a diferença? 

Tem gente enxergando a popularidade e habilidade do Bruno com o futebol maior do que o direito de vida de Eliza. E tem gente que não vê maldade nisso. Não vê problema em querer que um assassino esteja nas ruas. A questão é que essas pessoas tem a dificuldade de enxergar o Bruno como tal coisa. 

Assassino é uma nomenclatura muito forte e, sem corpo, gera uma dificuldade de ser aceita. Some isso com a falta que o Bruno faz no futebol e você terá uma parcela das pessoas querendo sua liberdade. Deixar livre um homem que foi capaz de matar a mãe do próprio filho. Deixar livre um homem que foi capaz de acabar com a vida de uma jovem. E não, mesmo que tentem justificar, é algo sem justificativa. Não me interessa o passado de Eliza, não me interessa se ela deu o "golpe da barriga". Para ter um filho é necessário duas pessoas e o Bruno foi uma delas. Agora imagina como vai ser aterrorizante para essa criança crescer e descobrir, mais cedo ou mais tarde, que sua mãe foi assassinada pelo seu pai. E não só o filho deles, mas como qualquer criança vendo um crime desses sair impune. Alguns anos na cadeia não vão apagar o que esse homem fez. Alguns anos na cadeia não vão diminuir a dor de uma família que perdeu a filha, de um filho que perdeu a mãe. Alguns anos na cadeia não vão anular o crime que o Bruno cometeu. 

Aqui no Brasil o crime é banalizado. Uma vida não custa nada e um assassino raramente paga pelo crime. Melhor, se me permitem, um assassino nunca paga pelo crime. O que seria necessário uma pessoa que mata a outra sofrer para pagar por isso? Eu não acredito em pena de morte, não pelos direitos humanos ou coisa parecida, mas por que matar esse assassino é impedir que ele cumpra sua sentença. Eu acredito na prisão perpétua, pois ali sim o assassino vai ter um bom tempo para pensar no que fez e rever seus conceitos. E não, eu nunca perdoaria um assassino. 

Só que, infelizmente, não é isso que acontece no Brasil. Aqui, depois de passar vários anos esperando o julgamento, depois de recorrer de todas as formas, esse criminoso não passará mais do que 40 anos na prisão. Temos então que somar o "bom comportamento" e ele conseguirá um regime semi-aberto. Bom comportamento? Como um assassino terá bom comportamento? "Ah, ele não matou nenhum coleguinha dentro da cadeia, já pode viver novamente em sociedade". Não existe bom comportamento para quem já matou da maneira que Bruno matou. 

Então, se vocês se vêem no direito de querer que o Bruno ganhe liberdade para voltar aos gramados e jogar o futebol, eu tenho o direito de não querer que um assassino faça parte do maior entretenimento brasileiro. Eu não quero um assassino nos campos de futebol. Eu não quero um assassino livre. Não quero mais um motivo para ter medo de andar nas ruas. Eu quero acreditar que a justiça, às vezes, funciona. E se não acontece nos casos pequenos, aqui do meu bairro ou do seu, onde um marido mata a esposa e aparece esse tal de "crime passional", que pelo menos aconteça nesses crimes que são estuprados pela mídia. Que pelo menos esses crimes que passam na televisão sejam levados à justiça. 

"Bruno chorou no primeiro dia de julgamento"
Eis a manchete do jornal da noite. 

Bruno chorou. Bruno está arrependido. Bruno quer voltar a jogar futebol.
Eu só acho que a Eliza também queria muitas coisas e uma delas era sobreviver. 

Isso não é feminismo!

quarta-feira, fevereiro 13, 2013
Resolvi falar sobre o assunto pois várias pessoas já me enviaram links com matérias sobre as ações do Femen e, ao mesmo tempo, criticaram o meu feminismo. Se você não conhece a diferença entre o movimento feminista e o Femen, você não sabe o que é nem um nem outro.


A mídia descobriu o Femen. Descobriu e resolveu fazer uso dele. O Femen, por sua vez, adorou os holofotes. Foi o casamento perfeito. De um lado, os jornais que querem ter sangue pra mostrar. Do outro, mulheres (sempre bonitas e magras) peladas que gostam de gritar. Já expliquei o meu ponto de vista sobre a nudez feminina, a grande questão são os posicionamentos de Sara Winter, mulher que trouxe o Femen para o Brasil. 

Antes de aderir ao Femen e trazer esse "movimento" da Ucrânia, Sara fez uma publicação em seu blog (que foi excluído posteriormente) criticando a nudez na Marcha das Vadias. Lá, ela diz que ser contra o "orgulho puta" que, segundo ela, é o que sustenta a Marcha. Quem diria que essa mesma Sara estaria na frente da Marisa, quebrando-a, de seios de fora. A diferença entre a nudez da Marcha das Vadias e das ações do Femen, ao meu ver, é a ditadura da beleza. Desculpa, mas só vejo mulheres lindas na Femen. Não vejo diversidade, não vejo várias representações. Vejo sempre as mesmas lindas mulheres de seio de fora gritando por gritar. Eu não vejo significado nas suas lutas. 

A Marcha da Vadias tem mulheres que são vistas como lindas por essa "ditadura da beleza", mas há todas as outras demonstrações de beleza também. É lá que a gente grita que a beleza está em todos os tipos de corpos, em todos os tipos de cabelo, em todos os tipos de seres. Outro ponto que a Femen se mostra excludente é o fato de não haver, em nenhuma parte do mundo, uma mulher transexual no movimento. Um movimento que se diz feminista deveria ter todos os tipos de mulher em sua composição. 

O feminismo sempre buscou a igualdade dos gêneros. Homem e mulher em uma balança equilibrada, onde um não corta o direito do outro, onde um não oprime o outro. Uma das propostas do Femen é: "Nós vamos criar o matriarcado e a revolução feminina". Criar o matriarcado? Colocar a mulher no lugar que o homem ocupa atualmente na nossa sociedade? Onde está a igualdade nisso? O feminismo não luta para pôr a mulher acima do homem, mas para que todos os gêneros tenham os mesmos deveres e direitos, que o nosso sexo não nos limite, não nos defina. 

Alexandra Shevchenko, militante do Femen, disse: "Nós queremos que daqui a 20 anos as pessoas se lembrem das feministas como lindas mulheres nuas e não como machonas carecas e tatuadas". Minha resposta a esse posicionamento é o seguinte: Eu quero que, daqui a 20 anos, as pessoas enxerguem umas as outras. O que eu luto é que os esteriótipos sejam excluídos do cotidiano. Qual o problema de ser uma "machona, careca e tatuada"? (sem levar em conta toda a conotação negativa que tem o termo "machona"). Ou qual é a superioridade em ser linda e estar pelada? Defendo a nudez feminina de uma maneira completamente diferente da que é colocada no Femen. Sara Winter diz que as feministas da Marcha das Vadias querem a nudez uma vez por ano, enquanto o Femen quer a nudez no cotidiano. Sim! Quero a nudez no cotidiano se for da vontade individual de cada mulher. Não uma imposição, não uma obrigação, não uma "arma". Meus seios não são uma arma, como Sara diz. Meus seios são meus, parte do meu corpo, não os pedi, nasci com eles. Não os usarei para ofender ninguém, nem para me defender. Quero é que eles percam essa conotação sexual que sempre colocam sobre as mulheres. Não os usarei como armas, não serei obrigatoriamente despida por um movimento que se diz feminista, mas não representa o feminismo. Daqui a 20 anos (ou 30, 50, 100 anos) eu quero que as pessoas não olhem mais para a aparência com o ar do preconceito. 

Houve uma especulação de que o Femen da Ucrânia havia repreendido Sara por ela deixar uma mulher gorda participar das manifestações. Em sua defesa, Sara disse que foi apenas uma brincadeira que a Ucraniana fez com ela, ao dizer que sua roupa apertada estava indicando que Sara estava acima do peso. Sério? Uma mulher que se diz feminista, que é líder de um movimento tão visto, criticando, mesmo que em tom de brincadeira, o peso de alguém? Ter o peso como fonte de piada já não é uma visão feminista, pois ao ponto que você coloca tal assunto como "aceitável para piada", você diz que ele é negativo. E, como já disse, no pensamento feminista nenhum corpo tem conotação negativa. Gorda não é xingamento e, se não é xingamento, não é matéria-prima para piadas. 

Eis uma das falas de Sara Winter em entrevista: "O problema do feminismo é que ele não atinge a grande massa da população. Por isso o Femen vem desenvolvendo o discurso do neo-feminismo já há quatro anos. No Brasil, por exemplo, por mais que haja décadas de lutas feministas, ninguém sabe o que é feminismo. O feminismo está nas universidades, nas casas de palestras. As feministas compartilham as ideias com mensagens herméticas, que não atingem pessoas simples." Ok. Gostaria de saber que imagem a Sara achou que iria passar ao quebrar a Marisa. Uma imagem de destruição, de vandalismo nesse nível não é bem visto por "pessoas simples". O Femen diz usar a mídia, mas é a mídia que o usa. Se somente usasse o Femen, tudo bem, tudo tranquilo, o problema é que tratam o Femen como "uma ação feminista". Não! Eu não quebrei a Marisa, embora fosse contra a propaganda machista que a mesma fez. Não! Eu não entrei na igreja pelada por que, embora seja a favor do casamento igualitário e contra a dominação da religião sobre as pessoas, eu respeito o direito de culto dos outros e, se não me encaixo naquele lugar, simplesmente não o frequento. Não! Eu não sou Femen! Minha luta vai muito além de mostrar os seios para ter uma arma a mais. A minha luta quer ensinar a mulher a se despir e impedir que essa sociedade machista arranque suas roupas. A minha luta quer ensinar a mulher que ela nunca é culpada de ser estuprada. A minha luta quer ensinar a mulher que, se ela apanha, ela tem que dar queixa. A minha luta quer ensinar as mulheres a pensar. 

Femen, você é machista. Não aquele machismo que vimos no blog Testosterona ou na página Orgulho de ser Hétero. Você tem pensamento machista, pois quer dividir. O Femen pode não acreditar que o homem tem superioridade, como o machismo faz, mas acredita que a mulher tem superioridade. Então, se o machismo é errado, o Femen também é. Eu não quero status por ser mulher, eu quero igualdade de direitos para meu gênero ser somente parte de mim. Sou mulher e não quero ser melhor ou pior do que ninguém por isso. Quero ser igual e fazer minhas escolhas e ter os meus direitos. 

Há quem não culpe a Sara Winter, mas sim todo o Femen Ucrânia. Bem, eu culpo o Femen como um todo, incluindo Sara Winter. Sara, a mulher que tem admiração por Hitler, a mulher que tem a cruz nazista tatuada no peito, a mulher que criticou a nudez feminina e agora usa seus seios como arma, a mulher que deu suas primeiras entrevistas sem nem ao menos saber do que se tratava o feminismo, a mulher que é líder brasileira de um movimento que diz que as mulheres tem que estar em forma, a mulher que recebe salário! Recebe salário para fazer parte de um movimento ideológico e social e um tanto quanto irônico. Transformar a militância em profissão é colocar em dúvida qual é o verdadeiro interesse de Sara. Então, eu critico o Femen por destruir a imagem do feminismo e critico a Sara Winter. 

Da próxima vez que você ler uma notícia falando sobre o feminismo, certifique-se de que não é somente mais um meio da mídia destruir a imagem do movimento. Certifique-se de que não é o Femen. Por que o Femen não representa o feminismo. 

O Femen é sexista. 

Lara Croft didn't need a reboot. Tomb Raider did.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013
Em time ganhando não se meche? Então, tem gente que não anda pensando assim. 

Desde que Tomb Raider foi criado em 1996, Lara é um ícone no mundo dos games. Entrou no Guiness Book como a heroína mais bem sucedida no mundo dos jogos. Teve a primeira grande recaída após o fracasso que foi TR 4: The Last Revelation (matar a personagem principal não é uma coisa legal. Isso é pra você também God of War 3!). Entretanto, após uma reformulação demorada dos jogos, Tomb Raider voltou ao ápice. 

A grande questão é que, com todos os fracassos e alguns jogos ruins, Lara Croft sempre foi a mesma. Inclusive no The Last Revelation, quando ela ainda é uma menina sendo guiada, a personalidade forte de Lara está presente, o instinto de sobrevivência e a imagem de uma mulher forte. Agora, 17 anos após o nascimento dessa heroína, querem desconstruí-la. Não somente querem, como o fizeram. Assim que o jogo "A Survive is born" for lançado, em março, irei comprar e jogar. Só que o que já vi sobre a nova Lara, me decepcionou. 

21 anos, perdida, fraca, inocente. Lara não é mais uma guerreira, mas uma adolescente perdida na floresta e que somente quer sobreviver. Lara que, antes, nunca precisou de ajuda, agora passará uma fase inteira procurando por alguém que possa salvá-la. A imagem de mulher forte, independente e guerreira se esvaiu. Antes, o que mais me perturbava era a ausência das características físicas e dos objetos clássicos; a trança, a mochila, as pistolas, os peitões. Agora, preocupa-me o motivo de terem retirado a minha Lara de mim (e de todos que crescemos jogando TR). 

A cada novo vídeo ou texto que leio sobre essa "nova" Lara Croft, sinto que simplesmente acabaram com Tomb Raider, roubaram sua história e colocaram uma garotinha qualquer para ser personagem jogável. Em que planeta uma garota daqueles iria sobreviver em uma ilha perdida? Lara sempre foi foda por ser a Lara; por ser uma mulher que poderia ser sexy, sem perder a garra. Uma mulher que poderia ser guerreira. Uma mulher que poderia ser mulher sem ser indefesa.

 É impossível não fazer uma comparação mental entre a Lara-criança de antigamente e essa Lara-adolescente de agora. A menina de duas tranças que se perde do guia e rouba a mochila de uma caveira era muito mais Lara do que essa garota de cabelos curtos que não sabe nem andar direito. Quiseram colocar realismo no jogo, mas o que fizeram foi retirar completamente toda a personalidade da Lara. Se antes ela já era uma personagem-objeto graças as suas roupas curtas, seios enormes e pernas torneadas, agora ela é um masturbador mental para os que querem ver a fragilidade feminina em jogo (literalmente). Usam a desculpa de que o jogo tornou-se realista, mas guardam o esteriótipo de que uma mulher como a Lara de sempre não poderia existir. Uma mulher com as feridas de Lara, seria uma guerreira. Só que, na visão desses mascus, mulher não pode ser racional o tempo inteiro. Sem a fragilidade, Lara não seria real. 

Tomb Raider precisava ser refeito. Precisava de gráficos melhores, enredos mais elaborados e um jogo maior. Tomb Raider precisava ser revisto, reanalisado e remontado. Lara Croft já estava pronta, não precisava de acréscimos nem débitos. Não precisavam mexer na personagem, mas sim na forma como o jogo é montado. Ao invés disso, preferiram mudar a forma como ela reage no jogo. Tiraram a minha guerreira e jogaram no lugar uma mulher que simplesmente não se encaixa no contexto. 

Lara não é frágil. Nunca será. 

Eu sou Santa Maria.

quarta-feira, janeiro 30, 2013
Embora eu sempre goste de fugir do óbvio, dessa vez serei o mais clichê possível. 
Sempre depois das tragédias, há chuva de palavras. 
Então, 
Essas são as minhas. 

Logo após o incêndio da boate Kiss, comecei a ler alguns textos sobre o desastre. São textos cheios de revolta e isso acalma um pouco o meu coração. Saber que a dor do outro ainda pode doer em nós é a forma mais significativa de saber que estamos vivos e que ainda vale a pena viver. A grande questão que me preocupou são as pessoas fazendo piadas. Entretanto, não somente isso; preocupa-me também aqueles que falam mal dos que fazem piada.

Certa vez li que a morte é uma piada pronta (não me crucifiquem, adoro os textos do Pedro Bial). Outra vez, li que piada é tragédia + tempo. Sempre concordei com a frase de Bial, mas não somente com a frase como com o texto todo. Lá ele explica que você programa não somente uma vida, algo tão grandioso, metas tão longas, mas também planeja o dia-a-dia mais cinza que possa existir. Nem que seu maior objetivo seja conseguir almoçar antes das oito da noite, é um objetivo. Então, você morre. Sem a melhor parte da festa e deixando todos os objetivos de lado, largados, abandonados, esquecidos, apagando-se.

Chega, então, a questão de que a piada é uma conta matemática. Uma soma entre tragédia e tempo. A tragédia seria a parte negra do humor, tão aplaudido e adorado. O tempo seria aquele espaço entre o xingamento e a risada. Hoje eu entendi que isso é realmente verdade.

Não gosto de piadas com tragédia, homofobia, machismo, racismo. Já escutei críticas de que, então, eu não gostava de rir. Muito pelo contrário. Eu amo rir, cair na gargalhada, perder o ar. Adoro sentar com os meus amigos e ficar ouvindo besteira, rindo um da cara do outro. Mas não consigo fazer o mesmo quando estou sentada na frente de um computador vendo piadas preconceituosas e completamente sem escrúpulos.

Hoje de manhã, enquanto me arrumava para ir pra faculdade e passeava pelo facebook, vi uma postagem de uma foto em que tinha diversos "tipos" de xadrez. O último era o xadrez do norte americano; sem as torres. A pessoa que compartilhou (ou postou, não lembro) aquela foto era a mesma que criticava os que ficavam fazendo comentários de que gaúcho adora churrasco. Quer dizer que pisar na dor das famílias dos jovens da boate Kiss não pode, mas pisar na dor das família do atentado do 11 de Setembro pode? Foi então que entendi que a piada é realmente a matemática tragédia+tempo.

Daqui a alguns dias, ou meses, se ainda lembrarem que ocorreu um incêndio grandioso e que centenas de jovens que estavam apenas começando a vida morreram, farão piadas sobre isso e ninguém virá com trinta pedras na mão. "Ah, agora pode, o luto passou". A grande questão, na minha opinião, é que o luto não passa. Não é uma doença que pode ser medicada e ela vai embora para nunca mais voltar. O luto, se comparado com uma doença, é a depressão. Uma vez na fossa, não há como sair. Há como dar uma observada na superfície, mas algo sempre vai te puxar para as profundezas. É escurinho, tão aconchegante... Então, alguém, que você mal conhece (ou não conhece), com tempo livre de sobra, uma vontade de fazer piada sobre tudo, começa a caçoar do motivo da sua dor. Não para te ofender, mas para não perder a piada.

Então, me preocupa não somente quem faz a piada e quem ri da mesma, mas quem a critica dois dias depois da tragédia. Sobre meu coleguinha que compartilhou a piada e não viu mal algum, será que ele aceitaria a mesma piada no final de 2001? Pra mim, a piada é horrível em qualquer época. Pisar em alguém para fazer os outros rirem, simplesmente não tem graça. Comediante que usa esse tipo de humor para se promover, não merece o seu aplauso ou a sua risada. Não merece seu ibope e o seu dinheiro. Merece nosso desprezo. Merece nossa pena. Afinal, que valor terá a vida para alguém que ri da morte de terceiros?

E, para terminar, não me venham com aquela frase de que "É só uma piada"; "Piada sempre ofende alguém". Se nós temos limites, se nós não podemos sair ofendendo todo mundo, então a piada também não pode. A piada não é carta branca para poder falar o que quiser. Chego a achar meio doentio quem gargalha verdadeiramente desse tipo de piada. Chego a ter medo de quem entende a gravidade da situação, entende do que a piada fala e mesmo assim ri. Pessoas assim me assustam.

Podemos ficar calmos.
Em breve o "luto nacional" passa .
(Dedico a todos que se sentem ofendidos por piadas)

Isso não é piada.

domingo, janeiro 13, 2013
Vamos relaxar que tudo não passa de uma grande piada...
Só esqueceram de me avisar quando era para rir. 

Escuto gente por aí falando que piada não tem limite. Que humorista tem carta branca para falar o que quiser. Há quem diga que piada não ofende. Só que, espera um minuto... Ela me ofendeu!

As piadas são a forma de enxergarmos mais claramente os esteriótipos que a nossa sociedade criou. Loira burra... quem não conhece algumas, né? De um lado é um comediante fazendo piada com grávida, ofendendo-a diretamente. Do outro lado, outro comediante falando para alguém come-lo para ele ficar "protegido". Bem, se essa piada é permitida, para mim, ela não tem graça. Qual a graça de ofender alguém, afinal? A graça de se sentir superior não pelo seu esforço, mas pelo fracasso alheio? A graça de fazer alguém descer alguns degraus só pra você ganhar impulso?

Dizem que eu exagero, que piada é só piada, que o politicamente correto agora virou moda. Só que se comediante não tem limite, vamos todos fazer piada e deixar o mundo afundar. Quando você faz uma piada para um grupo de amigos, ela pode ter um pouco mais de veneno. Você conhece a pessoa que está escutando, você sabe que ela não vai entender de maneira erra (ou supostamente sabe). A questão é que quando você fala para uma massa, uma piada torna-se uma verdade. Uma mentira, mas repetida tantas vezes, com tantas gargalhadas nas entrelinhas, que as pessoas passam a se perguntar "bem, se ele pode falar isso, por que eu não posso?"

Podem me chamar de careta e antiquada o quanto quiserem, piadas que representam uma falta de respeito sem tamanho formam preconceito e eu sou contra qualquer tipo de preconceito. Então, não esperem que eu seja público de comediantes que acham que podem fazer piadas da dor dos outros. Então, não esperem que eu esteja na primeira fileira aplaudindo um humor negro. Eu não irei aplaudir nem me calar. Eu vou criticar. Por que se pelo menos uma pessoa parar de rir dessas piadas, eu já fico feliz.

Se fosse você que pudesse morrer a qualquer instante somente por ser gay, se fosse você que fosse ofendida em rede nacional, se fosse você que se sentisse menosprezado por qualquer piadinha infeliz, você iria levantar bandeira contra esse comediante. Eu levanto bandeira contra esse tipo de humor, que ofende e acham que não tem limite. Humor tem limite!

Essa piada não teve graça. 

Só mais uma história sobre o amor.

terça-feira, janeiro 08, 2013
Eram dois corações que se encontram no meio do caminho de suas vidas. Era necessário que se encontrassem, mas também era igualmente necessário que se perdessem. 

Uma garota que nunca havia acreditado no amor. Ao seu redor, todos os romances pareciam falsos. Ao seu redor tudo era falso. Não só o amor, mas foi exatamente nisso que ela desacreditou. Era simples para ela não esperar que seu coração batesse mais forte por alguém. "Coração de pedra", como gostavam de nomear. Coitados, pobres garotos que se perderam no sorriso daquela jovem que, no fundo, não queria sorrir. Sorria por costume e para evitar que a questionassem. Odiava ter que responder perguntas sobre sua vida amorosa, ou melhor, sobre a ausência de vida amorosa. Não era e nem queria ser igual aos outros. Não queria morrer de amores, preferia viver sozinha a ter que entrar em um caixão com alguém. Os outros a viam como triste, mas só ela sabia o quanto era feliz. 

Um garoto que sempre acreditou no amor e não parava de procurar pela mulher de sua vida. Pros amigos ele era careta, tinha que aprender a parar de procurar, que era só olhar pro lado que ia encontrar o que tanto estava querendo. Ele olhou para todos os lados, andou por alguns metros e  nada de encontrar a mulher dos seus sonhos. Ele amava sonhar. Sonhava com muitas coisas além de formar uma família. Só que, embora sonhador, seus pés não queriam sair do chão. Almejava, mas não queria ir a luta. Achava que tudo que era sonho era impossível. 

Os corações se corresponderam assim que se conheceram. O diálogo era fácil e as ideias parecidas. Um foi mudando o outro, encaixando em sua realidade aquele sentimento tão estranho. Era amor? Talvez fosse além daquilo. Um era complemento do outro, como se estivessem passado a vida inteira vivendo somente para se encontrarem em algum momento. Os problemas desapareciam quando estavam juntos. Um com o outro era o certo. Só que chegou um momento em que os caminhos voltaram a se separar e cada um teve que escolher uma estrada. Não foi fácil... nunca é! Um transformou o outro de uma maneira tão intensa e verdadeira que eles nunca voltarão a ser o que eram antes, mas era preciso continuar sendo, mesmo separados. Isso foi há alguns anos, mas sei que um ainda pensa no outro antes de dormir. 

Já vi muitos casais que  se separando.
Não por falta de amor.
É triste, 
mas o amor nem sempre é suficiente.

Conselho, às vezes, é bom.

domingo, janeiro 06, 2013
Fui questionada acerca dos meus planos e desejos para esse ano que está começando. A doce menina com quem conversava queria a mesma coisa que eu: sentir! O que seria sentir, afinal? Esbarro na parede do meu quarto e eu sinto. Não é esse tipo de sensação que me falta. Não é o tato que me falta. Falei que queria sentir dentro de mim, aquelas borboletas no estômago que todo mundo tanto fala, aquela sensação de estar caindo de um prédio. Ando sem medo de cair e isso é perigoso. A queda não me assusta se eu puder me jogar, sentir o vento no rosto e quase quebrar a coluna na queda. Figuradamente, lógico.

Sentir seria voltar a interagir com as pessoas. Claro que tenho amigos e converso com eles, mas sempre fico na dúvidas se os conheço e se eles me conhecem. Será que alguém me conhece? Duvido muito. Nem eu mesma me conheço, vivo escondendo-me de mim mesma. Às vezes, quero fugir. Fugir de mim, como nos sonhos. Ando sonhando mais acordada do que durante a noite. Não ligue pros sonhos de quando estou dormindo, raramente consigo controlá-los. Gosto de ver meus pensamentos dançando livremente, sabendo que se eu não gostar do resultado é passar uma borracha e mudar o meu próprio destino.

Sentir seria puxar os sonhos para o chão, colocá-los no real, deixá-los sair do papel. É lutar pelo o que se quer, ir atrás do que acha certo e renovar-se todos os dias. Não ter medo da mudança; somos feitos de mudanças. Não deixar que o orgulho te impeça de seguir em frente. Errou? Dá um passo pra trás e recomeça, ninguém tem nada que criticar. É exatamente isso: deixar de levar as críticas tão a sério.

Sentir é deixar de me levar tão a sério. Afinal, pra que dá valor pra tanta coisa, vamos valorizar só o que é digno de tal ato. Vamos voltar a ser criança por alguns dias, vamos brincar de pique e soltar pipa? Não vamos ficar sérios por tanto tempo, o nosso sorriso é tão bonito quando é sincero. E tá faltando sinceridade nesse sentimento, então adiciona aí na lista a meta de parar de mentir tanto.

E no meio da dúvida sobre o que seria sentir e sobre o que eu quero para 2013, recebi um conselho que simplesmente tocou a minha alma: "Se joga, arruma um meio amor por aí e guarda o coração para quando der pra amar". Resolvi levar a risca. To deixando pra lá, me jogando naquilo que me dá vontade. Eu quero? Estou indo atrás, cansei de esperar vir ao meu encontro. Vou encontrar um meio amor aqui e outro ali... Duas metades é igual a um inteiro? Não sei, mas estou querendo descobrir. O coração? Está bem guardado aqui dentro e ele só vai dar o ar da graça quando valer a pena. Esse ano não é para sofrer, então vamos sorrir!


Eu não sei o seu nome, 
mas você me deu um conselho bom.
Obrigada. 

Mas sei seu tumblr, vale? (http://flor-de-papel.tumblr.com/)

Não me encaixar no seu molde não me torna menos verdadeira. Eu sou mulher de verdade!

sábado, janeiro 05, 2013
Só sei que eu prefiro mulher de verdade.

Aquela mulher que se dá valor, se dá ao respeito, não sai com qualquer marmanjo que chega nela, usa vestido que cobre suas coxas, não tem tatuagem, não gosta de chamar atenção por onde passa, mas é bonita. Sabe aquela mulher que todas querem, no fundo ser? É inveja pura quando falam mal dela, afinal, ela é perfeita. 

"Mas, cara, e aquela gostosa que você pegou ontem na balada?" Ah, conheci ela na academia e ela ficava me olhando, estava doidinha para dar pra mim. Não deu outra, não é? Encontrei ela na balada e nem precisei gastar minha lábia, já veio todinha pronta pra mim. E acredita que a vadia deu pra mim no primeiro dia? Muito piranha mesmo! 

A "gostosa" é só isso mesmo: um pedaço de carne e somos todos canibais. 

"Ah, teve aquela também que você conheceu naquela convenção de tatuagem." Então, cara, conheci numa convenção de tatuagem. Ela tinha um dragão tampando as costas toda, acredita? Gosta muito de chamar atenção, tem um gosto estranho, acredita que ela acha que mulher pode ser tão pintada quanto homem? Não, não dá para levar a sério uma mulher que tem mais tatuagem que eu e que fica falando que o corpo dela é uma tela de pintura. 

"Tinha também aquela que chegou em você naquele outro dia." Como vou dar moral para uma mulher que chegou em mim? Atirada, vadia, oferecida! Se eu a quisesse, teria chegado nela. Mulher tem que aprender a ficar mais calada, andam falando demais. Andam se oferecendo demais. Aquela ali é vadia para uma noite só. 

"E como era o nome da outra? Ana, eu acho..." A Ana? Sério que você quer lembrar da Ana? Ficava me mandando mensagem no celular, no facebook, me ligava, não parava de me dar condição, mas quando a gente saia ela tava sempre com um vestido curto, um short micro. Não, não dá para levar a sério uma mulher que, claramente, é uma vagabunda. 

"Fiquei sabendo que a Lurdes também estava afim de você" A Lurdes? Só que, cara, ela é feia! Fim de jogo. 

Quando cria-se a imagem de "mulher de verdade", cria-se juntamente a ideia de que existem mulheres que não são de verdade. A gostosa da academia, a tatuada, a feia, a de atitude, a que usa roupa curta. Uma só serve para transar, a outra só para a carência, outra é amiga, outra só por uma noite, a outra nem para isso. Deixa eu ver se entendi, então: A mulher de verdade seria uma mistura de todas as mulheres de mentira. Entendi, entendi! Não, mas espera aí. Laura é gostosa e, por isso, não é mulher de verdade. Você não frequenta academia também? Alias, a mesma que ela... Que vergonha, você não é homem de verdade! A Madalena tem um dragão tatuado e, por isso, não é mulher de verdade. Você tem um tribal nas costas e, que vergonha, por isso, sinto ter que te informar, mas você não é homem de verdade. A Felipa chegou em um homem e, por isso, não é mulher de verdade! Você chegou em trinta outras mulheres e nossa... Não é homem de verdade! A Ana usa roupa curta e, por isso, não é mulher de verdade! Você anda sem camisa, não pode ser considerado um homem de verdade! A Lurdes é feia, coitada, nunca será mulher de verdade! Você se acha bonito, se acha gostoso, se acha atraente, mas Paula só gosta de mulheres e, para ela, você é feio. Não é homem de verdade! 

Para homem não se aplica a dúvida da "veracidade" dele, não é? Só no caso de ele ser homossexual, aí ele vai ter realmente que aprender a ser homem de verdade, pois nasceu homem, mas escolheu ser mulher. Então não é nenhum dos dois, certo? E travesti, então? Tentam e tentam ser mulher, mas são homens... de mentira! 

Quando algo é de "verdade", todo o resto é de "mentira". Nesse jogo de julgar o que é real e o que é falso, ficou em mim a dúvida se sou ou não mulher de verdade. Sempre disse que queria gente de verdade na minha vida, mas afinal, será que a mentira é tão ruim assim? Ou melhor... existe gente de mentira? Por que as Lauras, Madalenas, Felipas, Anas e Lurdes são tão mentirosas assim? Por que elas são tão inferiores àquele molde lá do início do texto? A mulher submissa é a mulher de verdade? 

A questão é que eu sou de verdade, eu sou de carne e osso, eu tenho minhas ideologias, eu tenho minhas vontades, meus receios, meus medos, meus desejos. Eu tenho meus arrependimentos e meus sonhos. Eu sou tão repleta de incertezas que, talvez, quem sabe, se o tempo deixar, eu encontre algumas respostas pelo caminho. Em contrapartida, eu tenho planos de tatuagem, eu já cheguei em homem, eu ando de roupa curta. Enquanto ficam me considerando mulher de mentira, eu sei que sou de verdade. E todas somos! E não somente nós, nossas irmãs trans também são mulheres de verdade. 

Mulher de verdade é a mulher que sabe ser ela mesma. Mulher de verdade é ela, não outra. Mulher de verdade se molda, não é moldada. Mulher de verdade é quem ela quiser ser. Somos todas mulheres de verdade! 

Deixa que a minha roupa eu mesma tiro!

sexta-feira, janeiro 04, 2013
Uma das frases que mais me irrita é uma das que eu mais escuto: "Adora falar que mulher não é só peito e bunda, mas vai pras ruas mostrar o peito e a bunda". 

Fiquei pensando em qual seria a razão para a nudez feminina ser motivo de tanta revolta. Então percebi que o problema não é a mulher estar pelada. 


A grande questão não é uma mulher mostrar os seios. Não há problema nenhum em uma mulher, no Brasil, deixar os seios de fora. A problemática está no motivo pelo qual isso acontece. Tenho visto na internet várias reclamações sobre a forma de protesto da "Marcha das Vadias" e o foco das críticas é no fato das mulheres não se darem ao respeito e ficarem peladas no meio da rua. "Que falta de vergonha na cara!". A mulher está lá para gritar para todos esses hipócritas do nosso cotidiano que o corpo é dela, que ela sente calor também, que ela não é inferior, que ela não vai ficar calada, que ela vai lutar! É aí que está o problema.

A reclamação vêm criticando a ausência de vestimenta, mas, na verdade, quer dizer: "Você não pode ficar pelada quando deseja, na frente de quem quer! Afinal, o seu corpo não é seu... é NOSSO!" A sensação que tenho é que eu posso fazer tudo, desde que eu não grite aos sete cantos da terra que estou fazendo por mim e não pelos outros. Explicarei. Nossa sociedade quer ver peito de mulher. Globeleza no intervalo do desenho do seu filho? Pode! Mulher desfilando pelada no carnaval? Pode! Filme da Bruna Surfistinha ser quase um filme pornô? Pode! (não estou criticando nada disso, adoro carnaval e me amarro no filme da Bruna Surfistinha). Só que agora, amamentar em público? Que descarada, vadia, sem noção! Por que ficar mostrando esses peitos murchos? E ir para as ruas mostrar os peitos? Pra que?? Vai arrumar uma louça pra lavar que é o melhor que você faz! 

Crescemos com a noção de que o homem tem total posse sobre seu corpo, mas a mulher mal tem o direito de dizer "não". Quantas vezes ouvi comentários na praia, acerca de mulheres sem a parte de cima da roupa de banho, que diziam: "Ah, também odeio marca de biquíni" ? Eu sei essas mesmas pessoas criticam se passarem pela rua duas quadras depois da praia e encontrarem com uma mulher só de biquíni. Por que a nudez na praia pode? 

Então eis a conclusão: Todos querem ver mulher pelada. 

Mulher pelada faz sucesso, dá audiência, excita. Mulher pelada é propaganda, vende mercadoria, traz turistas. Mulher pelada é uma maravilha. Mulher pelada, entretanto, tem que se despir para um público que quer ver pele, não roupa. Mulher pelada tem que estar despida por que a despiram. Mulher tirar a própria roupa? Nunca! É essa a questão. Mulher não pode estar pelada para si. Afinal, mulher não tem que querer nada, tem apenas que satisfazer essa sociedade machista na qual vivemos, certo? Errado. Mulher tem que estar da forma que quiser. Burca, shortinho ou com os seios de fora. Mulher tem que aprender a se despir e impedir que os outros arranquem suas roupas.