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Fácil como respirar.

sexta-feira, outubro 26, 2012
No começo do ano, quando descobri que havia sido aprovada para a UFF eu fiz uma lista de coisas que eu tinha que fazer antes de começar a faculdade. Tinha 6 meses pela frente e um dos meus objetivos era, finalmente, terminar o meu livro. Dez meses se passaram e nenhuma página foi acrescentada. Esses dias, entretanto, me deu vontade de voltar a escrever aquela história que já está quase que completamente esquecida na minha memória. Mas... e agora? Onde está o arquivo? Fiquei procurando pelos pen drives antigos, hd externo e pastas dentro de pastas até que eu encontrei. Encontrei algumas histórias abandonadas e um conto escrito no bloco de notas. Um dos meus primeiros contos, escrito quando eu tinha 11 ou 12 anos. Resolvi postar ele aqui. Não mudei nada, só corrigi o português em algumas partes que estavam absurdamente erradas. Espero que gostem. (E não, nem nem abri o arquivo da história do livro. Deixa para os próximos 10 meses, né?)


 — Está pronta, Sabrinna? — Alissa, minha irmã mais velha, olhava-me com seus olhos negros.
— Não. — Confessei.
— Então, é melhor você ficar pronta rapidamente. Chegou o grande dia, pequenina. — Ela sorriu.
Suspirei.
Sempre soube que havia algo de estranho na minha família. Era comum ouvir expeculações e brincadeiras na rua. Principalmente quando o tão famoso dia das bruxas estava se aproximando. Cidade pequena é assim... As pessoas tendem a acreditar em lendas que são passadas de geração em geração. Minha cidade é assim. Os fatos não importam. Não importa, também, se quem contou a história morreu há mais de duzentos anos.
Cresci com Alissa fazendo brincadeiras comigo sobre o meu destino no dia das bruxas. Implicância de irmã, cheguei a acreditar. Dizendo-me, por vezes, que tudo iria mudar quando eu fizesse 21 anos. Pensei que fosse a liberdade. Iludi-me achando que me libertaria de alguma coisa.
Tola que sou.
Hoje, além de ser dia das bruxas, é meu aniversário de 21 anos. Ao contrário das outras pessoas, porém, não vou ganhar a tão sonhada liberdade como presente. Em contra partida, ganharei minha maldição eterna. Algo que eu não posso combater. Algo que ninguém, nunca, conseguiu enganar. "O seu destino pode ser seu carma ou seu darma, pequenina. Cabe a você escolher." — Dizia-me Alissa, todas as vezes que eu indagava sobre o segredo de família.
Então chegara o dia.
Antes do café-da-manhã, tive algo para digerir.
— Sabrinna, está pronta? — Alissa me olhou, ansiosa.
— Não, Alissa. Sinto medo dentro de mim. — Fiz uma pausa, olhando para as minhas mãos cruzadas sobre o meu colo. — Mas você pode falar. Quanto maior o tempo que você me esconde a verdade, maior o peso que você carrega nas costas. Está na hora de dividir o peso. — Tentei sorrir.



Alissa respirou fundo.
Então começou a falar.
— Há muitos e muitos anos, nessa mesma cidade, duas famílias brigavam pelo poder. Uma família de magos. Uma família de bruxas. Em uma, somente os homens tinham o poder. Em outra, somente as mulheres. — Alissa levantou um dos cantos da boca. — Romeu e Julieta. Coisas assim acontecem, Sabrinna. O nome dele era Matthew e o dela Maddalena. Ambos eram a grande promessa de suas famílias. Eles eram a esperança de poder. Antes de terem poderes, porém, eles eram humanos. Um pré requisito para poder ser chamado de humano é o fato de que cometemos erros. E eles cometeram. Cometeram o erro de dormirem na mesma cama e compartilharem o mesmo amor. Cometeram o erro de fazer a coisa mais linda do mundo; amar um ao outro com a força de sua alma. Cometeram o erro de unir o sangue das famílias. — Alissa fez uma pausa. — Quando Vênus nasceu, não era de conhecimento comum se ela seguiria o ódio ou o amor. Mas tome como lição, pequenina; Não importa quão grande seja o ódio. Se houver uma pequena faísca de amor, afeto ou carinho, o ódio é nulo. Ou quase. As famílias se uniram e amaldiçoaram os três frutos do amor proibido. Mas o amor deles era tão forte que nada os abalou. Mas a maldição foi lançada. E o amor só foi forte o suficiente para proteger quatorze gerações. — Ela me olhou nos olhos. — Então cabe a você, pequenina. Cabe a você, décima quinta geração. Cabe a você acabar com a maldição.
Eu não consegui, de primeira, entender tudo o que Alissa estava tentando me dizer. Mas uma pergunta me veio logo em mente.
— Como eu o faço? — Perguntei, com medo da resposta.
— Matando alguém de coração tão puro quanto o de Vênus. Na noite do dia das bruxas do seu 21º aniversário.

— E se eu não o fizer? 
— Então você estará traçando o caminho da morte e da dor não somente para nossas famílias, mas como para todos que um dia pisaram ou pisarão em nossa cidade. 
Eu não tinha mais nada o que pensar. Não poderia deixar aquilo acontecer. Acabara de descobrir meu passado e já sabia o que tinha que fazer no futuro. Eu não teria futuro. Eu sentia o que precisava fazer, como se já estivesse cravado em meu peito desdo dia em que nasci. 
Pensar naquilo era fácil como respirar. 
Fui até a praça da cidade, que estava vazia, com uma faca antiga na mão. Na outra mão, uma pequena carta. "Fácil como respirar" lembrei-me. 
E realmente fora. 
A faca atravessou meu coração tão levemente que não cheguei a perceber a dor. Parecia que meu corpo e minha alma estavam prontos para aquilo, necessitavam daquilo. 

No dia seguinte encontraram meu corpo sem vida e sem brilho. 
Hoje em dia o conteúdo da minha carta está exposto em todos os cantos daquela pequena cidade. Em forma de agradecimento, espero eu. 
É impossível limpar um nome quando é o seu destino que está manchado de sangue


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