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De luto sem perder a luta.

quinta-feira, julho 26, 2012


A dor não passa. Todos me falaram que a dor iria passar. Aprendi por mim mesma que essa é uma das mentiras mais dolorosas que o mundo quer que você acredite. A dor não ameniza. A dor permanece, se acomoda no seu sangue e na sua alma, toma conta de você e faz parte de você. Eu não sei o que seria de mim sem a dor. Eu não posso dizer que não sofro. Eu sofro quase todos os dias, cada vez que vejo uma foto, cada vez que tento buscar na memória as poucas lembranças que ainda tenho.
Eu perdi os três maiores homens da minha vida. Quando tinha doze anos, perdi meu pai. Com dezesseis, perdi meu padrinho. Agora, com dezoito, perdi meu avô. Há quem jure que a dor vai passar uma hora. Eu duvido. E eu não estou aqui para mentir ou tentar iludir as pessoas que, assim como eu, sofrem dia após dia. Eu quero é ajudar quem passa pela mesma coisa que eu. Ajudar a não cometer os mesmos erros que eu cometi.
Não se culpe por sorrir, nunca! A vida é dos vivos, não se esqueça disso. Não é por que você teve vontade de sorrir ou de rir que a sua perda é sem significado. Passei um ano me culpando por todas as vezes que sorria. Que culpa tem um sorriso se as lágrimas são mais frequentes? Deveria ele sair para sempre de nossas vidas? Não, não deveria. Mesmo durante as crises mais profundas de saudade, se permita rir. Se permita sorrir, mesmo que ache que é errado. Não é errado!
Não tenha medo. O medo me impediu de ter uma despedido com o meu pai. Eu tive medo de ir ao enterro, medo de ir ao hospital enquanto ele estava internado. Demorei seis anos para conseguir visitar o túmulo dele e morro de arrependimento por isso. Se seu coração mandar você ir, vá! Se despeça, chore, sofra. É sempre necessário terminar a última linha antes de virar a página.
Somos simbólicos independente de opção religiosa. Nos apegamos aos laços que o casamento traz e igualmente nos apegamos aos laços da morte. Ir ao enterro, à missa de sétimo dia, deixar flores no túmulo no dia de finados são maneiras de dizer "eu me importo". São uma forma de nos ligarmos a nossa dor, aceitá-la.
Tenha seu próprio luto. Quando alguém muito próximo de você morre, o seu luto é diferente dos outros. Enquanto os outros seguem a vida após a missa de sétimo dia, você ainda vai sofrer muito todas as datas comemorativas longe da pessoa que ama. Não tenha medo do seu luto, viva-o. Cada um tem o seu tempo de parar de vestir a alma de preto. Você não precisa se apressar e se culpar pelo sofrimento. Sofra. É o seu direito.
Desabafe. É um dos pontos mais importantes. Aos doze anos, quando meu pai morreu, eu me afastei do mundo. Eu me entreguei a depressão porque não conseguia falar sobre o assunto. Se você não tem com quem desabafar, escreva. O importante não é a resposta, mas sim colocar para fora tudo o que você pensa. Grite sozinha no quarto se necessário. Não se sinta culpado se quiser questionar a sua fé ou a sua crença na vida em si. Pegue um caderno velho e encha-o de perguntas. As respostas não vão ter a mínima importância. Deixe que seu peito esvazie. Respire fundo. Respire fundo. Respire fundo.
Guarde as memórias mais bobas, elas são importantes. Meu avô mandava recadinhos para minha avó depois de todas as brigas, antes de ir comprar pão ou só enquanto ia caminhar embaixo do prédio. Alguns ela ainda têm guardados na gaveta do quarto, outros ela jogou no lixo. A diferença é que ela lembra dos detalhes bobos dos dois. As brigas por quê um errou a receita do bolo do outro, as risadas, as brincadeiras, o dia que eles se conheceram... Ela lembra, embora metade das cartinhas tenham se perdido. A imagem mais viva que tenho do meu padrinho, por exemplo, é dele levantando durante a minha dança de quinze anos e falando que ia matar meu príncipe por que ele me deu um selinho. Nós devemos guardar os detalhes, pois amamos pelos detalhes.
Infelizmente, a morte não tem uma maneira exata de ser superada. Ela nem ao menos avisa quando vai chegar. Algumas vezes ela pode até dar menção de que está por vir, mas ela é sempre inesperada. Você sempre tem esperanças de que tudo vai se arrumar. Por destino ou milagre, seja lá qual for a sua crença. Irônico sofrermos tanto assim pela morte se nos ensinam desde pequenos que este é o ciclo da vida: A gente nasce, cresce, reproduz e morre. Lembra? Aprendi assim a vida dos animais. Nascer, crescer, reproduzir, morrer. Eu nasci há dezoito anos e ainda estou aprendendo como é que se cresce. Reproduzir é um plano bem lá pro futuro. O problema é o final dessa história, quando tudo vira só pó. O problema é que as coisas parecem se atropelar. Eu, crescendo, deveria conviver com a morte? Durante o segundo estágio da vida, conviver com o último? Só que é isso que acontece, é isso que a gente não pode controlar. A gente chora, sofre, quer morrer junto, depois quer viver e realizar tudo o que prometeu que realizaria. E se pergunta: "Você está orgulhoso de mim?" Só que não temos resposta. É duro, é cruel, mas é verdade. Não haverá resposta. E a dor que falei no início? Ela permanece como uma velha amiga.

Já estou uma semana sem o senhor, Vô. Eu to seguindo em frente, serei alta igual a você e vou tomar conta da vovó, eu prometo.
Papai, são seis anos sem o seu abraço, é difícil, mas a gente aguenta.
Dindo, você me faz uma falta enorme.
Eu amo vocês três...
"Brilha onde estiver"

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