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Meu ser entre aspas.

quinta-feira, maio 03, 2012

Cresci sendo diferente de tudo o que via ao meu redor. Eu brincava de bonecas, mas sem gostei de carrinhos também. Enquanto as garotas cresciam e queriam logo começar a namorar, eu nem sei se posso dizer que já tive um namorado. Minhas buscas e meus objetivos sempre foram muito diferentes. Eu sempre me perguntei como poderia gostar de alguém se nem sei se gosto de mim. Não é que eu me odiasse, é que eu não me conhecia - e talvez não me conheça até hoje. Eu nasci com a estranha mania de só formar opinião positiva após conhecer muito a fundo as coisas e pessoas. Eu sempre me senti fora do contexto. Era como se todos fossem Guns N' Roses enquanto eu era Teatro Mágico. Eu sentia como se o mundo implorasse por Rock, tivesse muito Funk e eu ainda achasse que tudo o que realmente era preciso era uma valsa do imperador. Enquanto algumas passavam horas na praia para conseguir o suingue carioca na cor, eu preferia ficar sentada no barzinho ouvindo um bom samba, mesmo que estivesse mais branca que leite. Enquanto os meus colegas queriam tarefas como "ligar os pontos", eu queria era temas políticos para a redação. Eu sempre fui assim... extremos e extremamente diferente. Foi nas aulas de português que eu, finalmente, me encontrei. Eu era boa com números, mas parecia que a língua portuguesa estava abrindo as portas do mundo para mim. Enquanto os outros xingavam a Mafalda por ela "estragar" as provas, eu ia na bienal do livro só para comprar livros enormes com tirinhas perfeitas daquela menina com alma de revolucionária. Quisera eu que pudesse ser mais como Mafalda. AH! Que alegria seria se eu soubesse ser política e que meus pensamentos se arrumassem tão facilmente e inocentemente como nas tirinhas bem boladas de Quino. Eu não, eu sou poética demais para ser política. Não que eu queira ser a Clarice Lispector versão 2.2, longe de mim, falta-me classe, jeito e gesto para isso. A questão é que eu, que sempre fui extremos, passo a ser mediana. Não sou tão revoltada quanto Mafalda e nem tão delicada quanto Clarice. E ainda me colocam o nome mais mediano de todos... Maria! E não que o mediano seja ruim. Maria é garra e religião e amor e união. E eu não sou nada disso. Eu sou uma farsa de Maria. Por isso sinto que todas as vezes que fossem falar de mim, deveria ser obrigatório o uso de aspas. Por que não importa qual seja o contexto, eu nunca vou estar inteirada. Vão mudar um pouco aqui e um pouco ali para tentar justificar-me. Eu crua, limpa, sem acréscimos ou descontos, são tão deslocada quanto se é possível ser. Então, quando forem falar de mim, se é que existe motivos para falar de mim, coloque-me entre aspas. Eu sempre estarei fora do contexto.  

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